segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Vale investiga suposto esquema de propina de funcionários no Pará

Por Marina Gazzoni, iG São Paulo

Um fornecedor da Vale está acusando os funcionários da companhia de praticar um suposto esquema de corrupção que levou ao fechamento da empresa. O sócio da WO Engenharia, Osmar Fonseca dos Santos, que prestava serviços para a companhia na Estrada de Ferro Carajás, em Marabá (PA), afirmou ao iG que funcionários da Vale e da Concremat, empresa contratada para fiscalizar a obra, descontavam 70% do valor dos serviços prestados para pressionar a companhia a pagar propina. 

WO Engenharia foi uma das vítimas dos "calotes" aplicados pela Vale no PA e MA

WO Engenharia acusa funcionário da Vale de exigir propina da empresa A Vale confirma que está investigando as acusações internamente. Segunda a empresa, nenhum funcionário foi demitido até o momento. A Concremat afirma que as acusações são falsas.

O pagamento de serviços em obras, em geral, envolve um processo de medição, no qual um fiscal aprova a execução do contrato. Se a conclusão for de que o serviço não foi cumprido conforme o contratado, o pagamento pode ser reduzido. 

A acusação da WO Engenharia é de que funcionários da Vale e da Concremat reduziam a medição dos serviços da companhia, o que fazia com que ela recebesse menos, já que se recusava a pagar propina. “Nossa margem é apertada. Os funcionários são orientados a não ceder a essas pressões”, diz Santos. 

O empresário afirmou que vai processar a Vale e cobrar uma indenização por danos financeiros. Segundo ele, a companhia tinha 95% da sua receita vinculada a contratos com a Vale e teve um prejuízo de R$ 50 milhões provocado por supostas irregularidades nos pagamentos feitos à companhia. “Não conseguimos suportar os cortes que eles faziam nas nossas medições”, diz Santos. A companhia, que tem sede em São Luís (MA), funcionava há 21 anos, mas encerrou as atividades no fim de janeiro e demitiu 2.500 funcionários. 

Esse não é o primeiro desentendimento entre a WO e a Vale. Funcionários da WO bloquearam a Estrada de Ferro Carajás em 25 de janeiro para protestar por atrasos de salários. Na ocasião, a Vale emitiu um comunicado no qual afirmou que não deixou de honrar contratos com prestadores de serviços e que chegou a antecipar os pagamentos a fornecedores para que eles pudessem pagar seus funcionários. 

Troca de e-mails 

A principal prova que a WO Engenharia diz ter contra a Vale é um e-mail que teria partido do engenheiro Paolo Coelho, funcionário da unidade da Vale responsável pelas obras na ferrovia. Uma cópia desse e-mail, enviada pela WO ao iG, e supostamente destinada ao funcionário da Concremat Luciano Monte, continha as seguintes declarações: “Vamos botar para quebrar com a WO nesta medição, não pode passar de 30% do que eles te mandarem. (…) Não podemos jogar fora tudo que já arrecadamos com os outros, com o nosso salário não dá nem pra pegar ônibus.” 

O iG telefonou para Coelho, mas ele não atendeu a reportagem. A Concremat disse ao iG que o e-mail em questão é falso.

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