quarta-feira, 20 de abril de 2011

Deu no Blog do Décio: “Todos contra a Vale”

“Costumo de dizer que quando muitos alunos começam a reclamar do professor, o problema está no professor.” A frase é do deputado Zé Carlos da Caixa (PT), vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos da Assembleia, presidida por Edson Araújo (PSL), que realizou nesta terça-feira audiência pública para discutir a quebradeira de empresas gerada pela Vale. O autor do requerimento foi o deputado Neto Evangelista (PSDB).

Humberto Mendes, João Mota, Ricardo Guterres, Neto Evangelista, Zé Sousa, Edson Araújo, Zé Carlos, J. Pinto, Carlinhos Amorim, Zeca Belo, Mônica Duailibe e Paulo Tanus durante audiência pública

Eram todos contra a Vale: deputados, empresários, representantes de entidades patronais e de trabalhadores, dos ministérios de Minas e Energia e Trabalho e Emprego, e o secretário Ricardo Guterres (Minas e Energia).

Um dos mais incisivos nas críticas foi o presidente do Sinduscon (Sindicato da Construção Civil), João Batista Mota. Ele confirmou o que já tinha afirmado (reveja) ao blog e disse ainda que entre os empresários maranhenses a mineradora é conhecida como “cemitério de empresas”.

Confirmou que estará na audiência pública para discutir o mesmo assunto dia 3 de maio na Câmara dos Deputados, em Brasília. “Isto está se transformando num problema nacional. O Estado está sendo estigmatizado pela Vale. O Maranhão é a bola da vez e não pode ficar sendo conhecido como cemitério de empresas”, declarou Mota.

O representante sindical afirmou que a mineradora “não tem corpo técnico para tocar as obras dela e falta gestão”. De acordo com ele, os contratos com a imposição do chamado “guarda-chuva civil” (quando as contratadas são obrigadas a manter equipamentos e material numa espécie de “reserva técnica”, gerando mais custos) é um dos motivos da quebradeira das empresas.

O vice-presidente da Fiema e presidente do Sindicato da Construção Pesada, Zeca Belo, disse que a multinacional já levou à bancarrota mais de 15 empresas no Maranhão.

Para o secretário de Minas e Energia do Maranhão, Ricardo Guterres, “essa quebradeira é inadmissível”. Chefe de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, Mônica Duailibe criticou o excesso de terceirização nas grandes companhias do país.

“Esse problema tem sido causado pela Vale por questões que extrapolam as contratadas, como a liberação da licença ambiental. Boa parte dessas empresas têm apresentado insolvência”, assinalou.

Representante do Ministério de Minas e Energia, Paulo Guilherme Tanus, confirmou que o Governo Federal está cobrando uma dívida de R$ 4 bilhões da companhia em royalties da mineração.

Rogério Belfort, da WO, culpou a Vale. "É justo o que fizeram com a gente?"

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, Humberto Mendes, também responsabilizou a multinacional pelos milhares de pais de família que têm ficado desempregados no Maranhão e Pará.

“Do jeito que está não pode ficar. Vamos fazer um relatório sobre essa audiência para a tomada de providências”, disse o autor do requerimento Neto Evangelista.

Vale X Empresas

Além do presidente do Sinduscon, cuja empresa – Logus Engenharia – quebrou nos anos 1990 trabalhando para a mineradora, participaram da audiência os empresários Osmar Fonseca dos Santos (WO Engenharia, do Maranhão), Marx Jordy (Maquipesa, do Pará) e Olímpio Biondo (Engecaf, de Minas Gerais). Outros empresários, como dono da Covap, Sílvio, participaram da audiência na condição de ouvintes mas, mesmo quebrados, não quiseram se manifestar porque estão em negociação com a Vale.

O mineiro explicou que trabalhou na multinacional durante 20 anos, seu pai morreu nos canteiros de obras da mineradora e seu avô foi o primeiro motorista da companhia, quando nem se chamava Vale.

Mesmo com todo esse histórico, a Engecaf já teve vários contratos rompidos sem explicação, o que o obrigou a ajuizar uma ação na justiça mineira pedindo R$ 17 milhões de ressarcimento. “Por causa dessa situação virei um andarilho. Já perdi mulher e filhos.”

Marx Jordy disse que pela Maquipesa já passaram cerca de 10 mil trabalhadores. De acordo com ele, sua empresa fechou porque a Vale “extrapola, ameaça e exige o que não está nos contratos”.

Osmar Santos contou que “a WO ia completar 22 anos quando foi à insolvência por culpa exclusiva da Vale. Diretor da empresa, Rogério Belfort, disse que teve de deixar os canteiros de obras “como bandido”.  Segundo ele, a direção da mineradora não gerencia de forma correta os projetos.

Zé Carlos, da Vale: "Eles queriam fazer a obra sem o mínimo de infraestrutura."

“De um contrato de R$ 63 milhões, estamos com um prejuízo de R$ 50 milhões. É justo fazerem isso com a gente?”, questionou. “Fomos perseguidos pelos fiscais da Vale. Cumprimos rigorosamente o cronograma das obras, mas foram repassadas informações falsas à diretoria.” Tanto Osmar quanto Rogério falaram com as vozes embargadas.

Sobre a questão da quebradeira, o gerente-geral de Operações da multinacional, José Carlos Sousa, respondeu apenas as questões envolvendo a WO Engenharia com quem a mineradora teria um problema “pontual”. Reconheceu que a contratada realizou um bom serviço quando atuou na área do Porto da Ponta da Madeira, mas não se planejou adequadamente para o serviço ao longo dos 800 km da Ferrovia de Carajás. “Eles queriam fazer a obra sem o mínimo de infraestrutura. Teve uma falha de gestão por parte da WO”, definiu.

Representantes da comunidade Itaqui-Bacanga e dos pescadores da Praia do Boqueirão reclamaram de impactos sociais gerados pela Vale nas suas comunidades.

Participaram ainda da audiência pública os deputados André Fufuca (PSDB), Eliziane Gama (PPS), Carlinhos Amorim (PDT), Jota Pinto (PR), Dr. Pádua (PP), Francisca Primo (PT) e Léo Cunha (PSC).

Fotos: Racciele Olivas/Agência Assembleia.

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