sexta-feira, 30 de março de 2012

Vale à pena ler...

Beleza, para que te quero?

Objeto de reflexão dos filósofos e de desejo dos humanos comuns, a noção de belo tem gerado discussões importantes também quando o assunto é carreira profissional, onde nunca se conseguiu chegar a um consenso sobre a real relevância do quesito aparência

Por Luciana Mello e Simão Mairins, Revista Administradores

Você pode até não conhecer o poema "Receita de Mulher", de Vinícius de Moraes. Mas, provavelmente, já ouviu alguém citando seus dois primeiros versos: "as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Talvez, se tivesse dito isso hoje – era do politicamente correto – o célebre poeta fosse o Rafinha Bastos da vez. Atualmente, poucas coisas soam tão preconceituosas quanto a utilização do subjetivo atributo físico como critério de seleção em algo que não seja um concurso de miss, uma seleção de modelos ou coisa do tipo.

O problema é que – podem até não dizer nada a você na entrevista de emprego ou estabelecer um ponto no regulamento fazendo menção explícita – mas, na prática, a aparência tem um peso considerável no mercado profissional. E, segundo um estudo norte-americano, ser bonito ou bonita faz diferença.

Em uma pesquisa conduzida pelo economista norte-americano Daniel Hamermesh, autor do livro "Beauty pays" ("A beleza paga", em português), um grupo de avaliadores classificou a beleza do rosto de 2.774 profissionais e concluiu que os trabalhadores americanos colocados entre os 7% mais "feios" ganham até 17% menos do que os 33% considerados mais "bonitos". Considerando apenas a amostragem do público feminino, os números mostram que nos Estados Unidos as "belas" ganham 6,5% mais, enquanto as "feias" perdem 4,3%.

Feio para você, bonito para mim

Definir quem é "bonito" ou "feio" não é uma tarefa difícil para você, nem para o recrutador que prefere os de "melhor aparência". Mas nada garante que sua percepção de beleza será a mesma dele, muito menos a do candidato na hora da seleção. Afinal, o que é belo?

Na concepção platônica, a beleza nada mais é do que pura ideia, a compreensão particular que cada indivíduo é capaz de formular sobre o conceito. Mas na própria Grécia de Platão, onde a noção de belo foi exaustivamente estudada, conceituada e venerada, chegou-se a formular matematicamente uma definição que, através de escalas e algoritmos, determinaria o que é feio e o que é bonito.

Hoje ninguém vai medir o rosto de uma pessoa para ver se suas proporções se encaixam nos modelos determinados pelos números gregos. No entanto, a beleza ganhou padrões, que podem mudar um pouco de região a região e de época em época, mas sempre tendem a reproduzir as características de grupos dominantes: os deuses gregos no mundo antigo, as moças brancas da Europa feudal, os ídolos teen norte-americanos hoje em dia.

Mas, pense bem: será que – independente de ser apenas uma noção individual ou um padrão pré-determinado – a beleza faz mesmo diferença na vida profissional?

Atitudes que valem mais

Para a gerente da Cia. de Talentos e Carreira, Bruna Dias, é importante se vestir e se comportar de acordo com o perfil da empresa onde se trabalha ou pretende trabalhar. E antes dos atributos físicos vem a capacidade de desempenhar seu papel. "O que tem que estar em evidência na hora da entrevista não é a beleza. É a sua competência", destaca Bruna.

Entretanto, Bruna acredita que – embora a aparência não seja um elemento que se sobrepõe às exigências mais importantes do mercado – ela pode ter relevância no primeiro contato com um recrutador, um novo chefe ou uma nova equipe.

Para Rudney Pereira Junior – gerente de projetos do Grupo Foco, empresa especializada em gestão de pessoas – a forma como o profissional se apresenta em um primeiro contato também é importante. "Através do currículo puro, o recrutador não conhece a pessoa, o contato pessoal é muito importante e é essencial que o candidato saiba se apresentar e passar confiança", afirma.

Pereira Junior explica, no entanto, que isso não quer dizer que as pessoas precisam seguir sempre um padrão de como se vestir ou se portar. É difícil, por exemplo, encontrar pessoas com tatuagens pelo corpo atuando no ramo da medicina. Mas no meio da comunicação é comum.

Bruna destaca a mesma coisa: "de maneira geral, alguns cuidados são sempre importantes. Mas o mais importante é o candidato estar de acordo com o perfil da empresa. Normalmente, não é legal ir trabalhar de mini-saia. Mas se for uma loja de surf, qual é problema?".

No caso dos profissionais mais jovens, inclusive, é sempre importante inspirar confiança nos primeiros contatos, destaca Bruna. E, nesse sentido, a aparência tem um papel importante. "Normalmente, se costuma dizer que há preconceito com os profissionais mais velhos. Mas também há com os jovens demais. Por isso, é fundamental transmitir credibilidade", destaca.

A gerente da Cia. de Talentos destaca, no entanto, que é preciso ficar à vontade. Segundo ela, é importante tomar cuidado para não acabar se sentindo "desconfortável, porque isso pode piorar qualquer situação".

Enfim, independente de serem eleitos como feios ou bonitos, bons profissionais sabem que assumir a postura certa diante de cada situação é o que faz a diferença. E, mais que tudo, estar munido de algo que não é necessário nenhum estudo para comprovar sua importância: competência.

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