quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mordomos da notícia

* Por Anfrízio Meneses

Anfrízio MenezesAinda abordando o tema da última semana, quando trouxemos para reflexão o papel da imprensa e de muitos dos que a fazem(naquela oportunidade reproduzimos um artigo de Danielson Roaly), voltamos ao assunto compartilhando, agora, a percepção do escriba Rômulo Gomes que, com o título acima, assim se manifesta:

“Um jornal não é um difusor de idéias particulares vendido a moinhos que dependem de notícias para girar. Mas a era da informação provoca fenômenos que sugerem uma reformulação dessa hipótese.

Sob a perspectiva moral, impulsos pessoais não deveriam ser os agentes da construção da notícia, ao passo que, sem o juízo pessoal, também não se consegue discernir entre o que é real ou não. Tramita neste embate o lúdico e o praticado.

Um profissional que vive da notícia, não consegue se envolver pessoalmente com sua matéria-prima, e ao mesmo tempo reportá-la da maneira mais fidedigna possível. É difícil compreender como fazer corretamente, sem se envolver e sem cometer equívocos. 

Empresas jornalísticas de todo o mundo tem em seu âmago diversos organismos que interferem na apuração de um fato. Destaca-se, entre esses, a prestação de contas do empregado ao empregador. Numa linguagem mais coloquial, a tão chamada linha editorial.

O profissional ao se aventurar trabalhando em um veículo, tem compromissos que permeiam desde a estética do veículo, até a impressão que a facção xiita do sul do Iraque pode ter de determinada matéria publicada. Não se trata de uma ou outra organização reportada ou de tipos de matérias que são escritas, mas da postura que o veículo adota em frente a essas situações.

Um jornalista consegue ser livre para publicar quando não consegue se envolver em nenhum dos lados possíveis de um fato. Daí insurge a velha regra aprendida em todas as faculdades de Jornalismo, que reza pela auditoria de todos os lados envolvidos. Entretanto, quando o profissional escreve a primeira palavra já tem uma história a ser defendida.

O escritor e jornalista Ricardo Noblat, em seu livro “A Arte de Fazer um Jornal Diário”, menciona que o jornalista deve zelar pela busca da verdade e nunca se dar por satisfeito. A verdadeira apuração é aquela que extingue todas as dúvidas possíveis. De acordo com Noblat, deve-se ainda perceber que não há mais de uma versão de uma história, mas diversas formas de contar a mesma história. Os fatos não devem "divergir no essencial", afirma.

O problema da parcialidade deve-se muitas vezes à pendência de interesses, que por vezes, não condiz com a busca pela verdade. Se um indivíduo se envolve muito em uma apuração tende a tomar posição, e então deixa a ética jornalística. Porém ao não se envolver, pode cometer equívocos.

Chega a causar espanto ter essas duas vertentes de apuração.

Por vezes, os veículos, e, por conseguinte, os jornalistas, são ludibriados a aceitar uma apuração previamente moldada. Por ser mais fácil, e de livre acesso. E caso esteja errada, basta publicar uma nota esclarecendo o fato.

Bem, desta forma, deixa-se de produzir jornalismo e passa a ser uma indústria de boatos, em que vence o mais convincente, ou o mais difícil de ser desvendado.

O jornalista deve também ter preocupação em procurar a verdade no fundo de uma caverna, mas não pode correr o risco de esquecer o foco inicial e resolver morar nessa caverna. Esse passa a acreditar tão piamente em sua verdade acolhida, que fica difícil convencê-lo do contrário.

Caso o jornalista esqueça-se decomo fazer seu trabalho, resta a ele lembrar então por que fazê-lo. No “Correio Brasiliense”, o jornalista T. T. Catalão lembra que a intenção do jornal é servir. E a forma como isso deve ser feitonão pode ferir a quem se serve.

Um mordomo zela pela propriedade de seu patrão, o jornalista pela veracidade da informação que será levada aos outros.

É possível ter a mente sempre direcionada na verdade, mas nem sempre é fácil fazê-lo. Quando o profissional esquece a quem deve servir, e da importância de tal ato, perde-se a notoriedade dessa função.

Não se trata aqui de afirmar quem ou o quê está certo, mas, em mostrar como a ética deve ser aplicada em situações que envolvem um bem comum, que é a informação servida.

Não se vende um jornal pelo peixe que está embrulhado dentro dele, mas pela relevância a que o jornal procura para si. Caso contrário, a solução é embrulhar peixe.

Para os que se preocupam com uma vida em função da notícia se espera que esta seja bem feita. Senão é provável que muitos jornalistas tenham uma crise existencial profissional iminente.

Àquelas pessoas que não se preocupam... A vida medíocre e a indústria de boatos têm enorme satisfação em abrigá-los”.

*Anfrízio Meneses é advogado e ex-gerente do Banco do Brasil em Açailândia e Imperatriz.

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