sexta-feira, 18 de março de 2016

7 acusações de Delcídio que resumem a política do Brasi

 O ex-senador ainda terá de provar tudo que disse; mas suas declarações vêm com a força de quem esteve dentro de todos os governos desde Itamar Franco.


Uma decisão do Supremo Tribunal Federal tornou pública nesta terça-feira (15) a delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS). O documento foi homologado pelo ministro Teori Zavascki e faz parte de um acordo entre o senador e a Procuradoria-Geral da República (PGR) para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato.
Pelas regras do acordo firmado, a pessoa investigada, além de confessar seus crimes, deve, entre outras coisas, apontar o envolvimento de outros e apresentar meios para que o Ministério Público Federal colete provas. O delator não pode mentir em sua fala. Pelos seus crimes assumidos, Delcídio devolverá aos cofres públicos R$ 1,5 milhões.
Delcídio, preso desde novembro após tentar dificultar as investigações da Lava Jato, não poupou colegas de partido ou membros da oposição. Estão citados a presidenta Dilma Rousseff; o vice, Michel Temer; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante; e membros do PMDB, como Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.
Ao longo de mais de 200 páginas, que contêm transcrições de 21 depoimentos prestados à Polícia Federal por Delcídio, há várias acusações e você pode conferir todas aqui. Nós lemos o texto na íntegra e encontramos alguns detalhes que foram pouco repercutidos nos últimos dias, mas, juntos, dão uma ideia da dimensão dessa delação e do submundo político que imaginamos, mas não vemos. É um enredo de dar inveja nos roteiristas de House of Cards.
Confira abaixo:

Era uma vez Furnas…

Segundo Delcídio do Amaral, o escândalo da Petrobras, que já bateu com folga o do mensalão, é fichinha perto do que acontecia em Furnas. A estatal de energia, segundo o ex-senador, abrigou um esquema altamente sofisticado de corrupção, que financiou campanhas de diversos partidos (tanto da atual situação quanto da oposição) ao longo de vários anos. O operador-chefe foi identificado por ele como "Dimas", que era extramente cauteloso e, em grande parte por sua "habilidade", o esquema nunca se tornou um escândalo. Dimas, inclusive, segundo Delcídio, "continua no mercado", sem chamar atenção.
É do trecho em que trata de Furnas que saiu a acusação que colocou Aécio Neves (PSDB/MG) de volta nos holofotes da Lava Jato. Delcídio declarou que o mineiro era um dos principais beneficiários do esquema e sugeriu uma relação entre o caso e contas que o tucano teria no paraíso fiscal de Liechtenstein em nome da mãe e da irmã.

Dilma x Cunha: primeiro round (e você nem viu)

Segundo Delcídio, a roubalheira em Furnas só acabou quando Dilma Rousseff, pouco depois de assumir a presidência, fez "uma verdadeira intervenção" na estatal, destituiu toda a diretoria e nomeou profissionais de perfis técnicos. Entre os demitidos estavam, entre outros, grandes aliados de Eduardo Cunha, atual presidente da Câmara, investigado na Lava Jato e um dos maiores desafetos da presidente petista. Teria nascido aí o mal estar entre os dois, segundo Delcídio.

Dilma entra no jogo

Sobre Dilma, Delcídio disse que ela fez uma série de “investidas” juntamente do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com objetivo de interferir no andamento da Operação Lava Jato. Segundo Delcídio, a intenção de Dilma seria obter a soltura dos executivos Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Marcelo Odebrecht. Além disso, ela teria usado as indicações de Nelson Schaefer e Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça como uma forma de manipular os julgamentos que ocorressem por lá. O ex-senador afirma ainda que Dilma tentou conseguir apoio do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, mas não conseguiu.
Ela ainda foi acusada de pressionar pela nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora e de estar ciente dos esquemas de corrupção envolvendo a compra da refinaria de Pasadena.

Os afilhados de Temer

Na delação de Delcídio, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), é acusado de ser padrinho político de responsáveis por grandes esquemas, como o da aquisição irregular de etanol por meio da BR Distribuidora entre 1997 e 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Delcídio diz ainda que Temer teve grande influência na substituição de Nestor Cerveró por Jorge Zelada na diretoria de Abastecimento da Petrobras.

FHC e Alstom

Delcídio conta também que tomou conhecimento de esquemas de corrupção na Petrobras quando foi diretor da estatal, entre os anos de 1999 e 2001, governo de Fernando Henrique Cardoso. O primeiro caso aconteceu na compra da Plataforma P-36, que apesar de orçada em US$ 400 milhões, custou aos cofres da estatal mais de US$ 500 milhões.
Outro caso citado pelo senador ocorreu com a compra da máquina GT2 da Alstom pela Petrobras. O negócio, disse o senador, ocorreu de forma ilícita e rendeu em torno de R$ 10 milhões ao antigo PFL em propina. Detalhe: a Alstom é a mesma empresa envolvida no escândalo conhecido como Trensalão Tucano, de governos de São Paulo comandados pelo PSDB, e que ainda está em curso.

Lula, o manda-chuva

O ex-presidente e recém nomeado Ministro da Casa Civil Luiz Inácio Lula da Silva foi citado diversas vezes na delação de Delcídio Amaral. O senador afirma que Eduardo Cunha tinha um papel de "menino de recados" do banqueiro André Esteves, principalmente quando o assunto era de interesse do banco BTG, suposto mantenedor do Instituto Lula (o banco negou essa informação). A ajuda foi justificada por Delcídio devido ao fato de “Lula ser um grande ‘sponsor’ [patrocinador, em inglês] dos negócios do BTG” e que o ex-presidente “era um alavancador eficaz de negócios para agentes econômicos junto a instâncias governamentais nacionais e estrangeiras”.
Em outra acusação, o senador diz que Lula operou a compra do silêncio do empresário Marcos Valério sobre as investigações do mensalão pela quantia de R$ 220 milhões.
Em resumo, Delcídio afirma que Lula é o grande cabeça por trás dos maiores escândalos de corrupção em âmbito federal na última década.

Ligações com a Rede Globo

No depoimento, Delcídio apresenta ainda o operador Jorge Luz como o responsável por ajudar o PMDB a recolher propinas na Petrobras. De acordo com a delação, ele era "apadrinhado de Jorge Serpa, braço direito de Roberto Marinho", dono das Organizações Globo. Luz é listado pela procuradoria como um dos principais articuladores de roubo na estatal, atuando desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.
E então: House of Cards é páreo para o Brasil?

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