sexta-feira, 16 de abril de 2010

Monitor da Funac revela tortura e maus-tratos

Três adolescentes de Açailândia já foram vítimas da violência praticada dentro da instituição e vieram a óbito.

cabea10 São Luis - Um monitor do Centro de Juventude Esperança (CJE), na Maiobinha, que preferiu não se identificar, cansado de assistir aos maus tratos sofridos pelos internos da casa de ressocialização, resolveu denunciar os abusos cometidos por funcionários da instituição e por outros adolescentes internos. As revelações são assustadoras e vão de castigos a mortes.

O centro é ligado à Fundação Nacional da Criança e do Adolescente (Funac), que tem por objetivo garantir o cumprimento da política de atendimento especial a adolescentes em conflito com a lei, mas não é isso que vem acontecendo. Para o monitor, os jovens estão tendo a adolescência roubada pelo abuso, abandono e os maus tratos dentro do centro.
“É bastante delicada a situação desses adolescentes, eles vivem desolados e temerosos, pois a qualquer instante um deles pode ser agredido sem mais nem menos e estão perdendo boa parte da juventude”, declara.
Ele conta que os jovens são agredidos com cassetetes. E na maioria das vezes a socos e ponta-pés. “É triste, porque nada podemos fazer, só ouvimos os gritos de sofrimento”, afirma. 
Recentemente criaram a sala de reflexão no centro, no entanto, o que era para ser um ambiente de meditação virou a sala de castigo. O local é um pequeno cubículo com 3m², de pouca luz, onde o jovem, por qualquer desacato, é levado para ser espancado, denunciou o monitor.
Lá os adolescentes são amarrados e, às vezes, até amordaçados para que não gritem, e assim, são submetidos a humilhação e agressões físicas. A sessão de tortura dura horas. Em outros casos os jovens são algemados nas grades das salas e ficam um longo tempo sem poder sentar.
“Esse é o castigo mais leve deles. Mas, imagina você passar horas amarrado sem poder tomar água e nem sentar. É difícil”, observa.
O monitor conta que os adolescentes, passando por situações como essas, estão longe de conseguirem adaptação à sociedade. Na visão dele, os jovens estão sendo educados para serem eternos marginais.

“Eles, sendo humilhados direto, quando saírem da Funac, vão querer descontar a raiva adquirida dentro da fundação no primeiro que aparecer. Os adolescentes pensam que não têm nada a perder”, concluiu o monitor. 

O monitor denunciante conta que antes a instituição oferecia vários trabalhos de ocupação para os internos, mas que hoje, os adolescentes passam boa parte do tempo sem qualquer trabalho ocupacional. Havia oficinas de informática e carpintaria, mas atualmente a única distração são os jogos de futebol e o banho de sol. 

Adolescente assasinado na Funac
Em 4 de janeiro, um adolescente de 17 anos, morreu nas depedências da instituição. O jovem foi amordaçado, amarrado e espancado por outros internos, depois recebeu 18 facadas e morreu no chão de uma das salas da Funac da Maiobinha. O monitor afirma que o assassinato do garoto foi um acerto de contas. A vítima teria ‘dedurado’ a entrada de drogas no centro de ressocialização. O que chama atenção é que segundo o denunciante, monitores armaram a emboscada para a execução da vítima. 

Instituição não nega agressões
O presidente da Funac, José de Jesus Leitão, informou que abusos  poderiam estar acontecendo dentro da casa de ressocialização. No entanto, afirma que  se isso aconteceu foi antes da sua gestão. Ele aproveitou e disse que vários trabalhos serão feitos para melhorar a imagem da fundação. “Hoje as pessoas e a imprensa veem as Funac como presídio, mas eu irei fazer com que isso mude”, prometeu.
Leitão declarou que foi ver pessoalmente o que precisava ser mudado e melhorado na unidade da Maiobinha. “Fui duas ou três vezes. Quando vi pernas de cadeiras quebradas no chão e ferros jogados retiramos para evitar futuros incidentes”, revelou.
De acordo com o presidente existem vários projetos que estão sendo colocados em prática e dessa forma esperar acabar com a ociosidade do internos do centro. “Assumir em 6 de abril e planejo oficinas de informática e a prática esportiva. Assim, esperamos que esses jovens sejam realmente reintegrados a sociedade”, afirmou.

Fonte: O Imparcial  

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