* Por Anfrízio Meneses
Que legal gente! As duas últimas abordagens despertaram sentimentos diversos por parte dos leitores, a maioria ansiando pelo aprofundamento da análise empreendida acerca da postura da imprensa tupiniquim.
Sendo assim, e atendendo a pedidos formulados, deixamos mais esta contribuição, agora compartilhando o posicionamento do jornalista André Lux.
Eis o que ele entende:
“Imparcialidade” é uma palavra que, vira e mexe, aparece em editoriais ou artigos da nossa imprensa corporativa toda vez que ela é acusada de faltar com a ética e de desrespeitar as regras básicas do jornalismo. Os editorialistas e articulistas desses veículos fazem então das tripas coração para defender essa suposta máxima que, garantem, rege o dia-a-dia das suas redações (como se fosse possível a alguém simplesmente se despir completamente de toda a sua vivência, aprendizado e visão de mundo para escrever sobre um fato).
Se você duvida, então peça para pessoas diferentes descreverem com riqueza de detalhes, por exemplo, um acidente de trânsito. Nunca, jamais, elas ilustrarão o ocorrido da mesma maneira. E, via de regra, alguém vai tomar partido para um dos lados.
É para evitar ao máximo que essa parcialidade inevitável ocorra no jornalismo que existem manuais de redação, regras e até leis que visam regulamentar a prática da profissão. Ouvir todos os lados, dar igual destaque a eles e não publicar denúncias sem provas como verdade factual são algumas das mais básicas e óbvias. Agora, pergunte, você já viu isso EFETIVAMENTE acontecendo? A resposta é, via de regra, um sonoro NÃO!
Mas, como conseguem continuar manipulando a opinião pública de forma tão evidente, se não respeitam nem mesmo os princípios mais básicos do jornalismo? É aí que entram os dois tipos de pessoas que propagam entre a população esse mito da imparcialidade, cada vez mais presentes nas redações: os ingênuos e os canalhas.
Os primeiros, também chamados de “inocentes úteis”, realmente acreditam que um ser humano pode mesmo ser capaz de escrever imparcialmente sobre algo que presenciou ou foi informado por terceiros. Por isso, defendem cegamente os veículos nos quais trabalham e fazem da imparcialidade sua bandeira mais sagrada, acreditando que possuem total liberdade de expressão, quando na verdade apenas escrevem exatamente o que seus patrões gostam de ler.
Já os segundos, bem mais perigosos e dissimulados, são aqueles profissionais que fingem não ter qualquer posição ideológica enquanto vendem os seus esforços para defender justamente aquilo que não existe nem nunca vai existir: a bendita imparcialidade. Estes ‘formadores de opinião', na verdade, estão apenas defendendo os interesses dos seus patrões e dos que os apoiam (ou vice-versa). E são muito bem pagos para fazer esse serviço sujo, diga-se de passagem!
Graças a essas pessoas desprovidas de escrúpulos e ética, movidos apenas pela ambição e pela ganância, veículos de informação que possuem o rabo preso com tudo, menos com o leitor, conseguem inverter completamente a lógica do processo jornalístico e transformam editoriais (espaço para a publicação de opiniões) em defesa de seus próprios umbigos.
Ali, se autoproclamam ‘senhores da isonomia e da imparcialidade’ e vestais da defesa da ‘liberdade de imprensa’, enquanto usam justamente os espaços reservados às notícias para manipular, mentir, falsificar ou simplesmente distorcer os fatos em favor dos interesses dos grupos que os financiam ou que têm afinidades ideológicas.
Os exemplos são tantos que nem vale a pena enumerá-los, mas se alguém duvida é só lembrar de todas as vezes que leu uma manchete na Folha de São Paulo que trazia afirmações totalmente contraditórias com o que estava sendo efetivamente dito no texto ou as grotescas capas da revista VEJA, que afirmam como sendo verdades absolutas informações passadas sem qualquer comprovação. Isso só para citar dois exemplos dos mais óbvios.
É nesta hora que muitos vão perguntar: por que esses senhores da mídia brasileira não assumem claramente suas posições político-partidárias em editoriais? Não seria mais justo e honesto com seus leitores? Por que eles têm medo de tirar essa ridícula máscara da imparcialidade e deixar claro o que pensam, o que representam e o que defendem? A resposta é tão óbvia que chega a doer: porque se fizerem isso não vão mais poder mentir, manipular, distorcer e construir impunemente ‘pensamentos únicos’ que favorecem apenas a eles mesmos e àqueles que dividem suas crenças e valores.
Para ver como essa manipulação e falsidade ideológica são evidentes no caso do Brasil, basta analisar o nosso próprio noticiário. Não é raro vermos notícias com o seguinte teor: “Jornal CONSERVADOR inglês elogia...” ou “Rede de TV LIBERAL da Espanha defende...”. Isso quer dizer que o jornalismo deles é melhor que o nosso? Pode até ser (e deve ser mesmo), mas não é essa a questão. A questão é que muitos representantes da imprensa do chamado “primeiro mundo” deixam claras quais são as suas posições e, assim, colocam a cara para bater e, mais importante, arcam com as consequências de seus atos e posições. Nada mais justo e democrático, pois bem.
Isso existe no Brasil? Novamente, a resposta é um sonoro NÃO, com exceção da revista Carta Capital que não teve medo de apoiar um candidato em seu editorial, embora não se furte de criticá-lo em matérias. Não é à toa, portanto, que a revista vive sendo ataca por outros veículos, afinal dá um péssimo exemplo de honestidade e correção, numa imprensa onde predominam a hipocrisia e falsidade.
Que fique bem claro, este artigo não é, de maneira nenhuma, contrário à liberdade total de imprensa. O que está sendo defendido aqui é a existência de uma imprensa honesta, não no sentido mitológico de ser ‘imparcial’, mas sim no sentido de deixar claras quais sãos suas verdadeiras posições, interesses e ideologias.
Infelizmente, enquanto isso não existir no Brasil, continuaremos a ser reféns de mentiras, manipulações, distorções, linchamentos públicos e, por consequência, de políticos exclusivamente corruptos e vendidos, cujas únicas motivações são continuar garantindo e gerando benefícios apenas para os donos do poder – os barões da mídia aí incluídos, que em muitos casos, são os próprios políticos.
*Anfrízio Meneses é advogado e ex-gerente do Banco do Brasil em Açailândia e Imperatriz.