terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

No Maranhão Padres vão trocar altar pelo palanque

Folha Maranhão

A regional Nordeste 5 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Maranhão não seguirá a orientação do documento editado pela regional Centro-Oeste vetando a participação de padres nas disputas eleitorais ou em qualquer atividade política, como comícios e reuniões partidárias. No documento (Leia mais abaixo) a CNBB aconselha os padres para que fiquem distantes da disputa por cargos eletivos no pleito de outubro deste ano.

Arcebispo de São Luís, Dom José Belisário

Arcebispo de São Luís, Dom José Belisário

Na opinião do arcebispo de São Luís, Dom José Belisário, apesar da igreja impor restrições, os padres conservam o direito de candidatura. “Os padres são brasileiros e como brasileiros têm o direito de um cidadão comum”, comentou o arcebispo.

O arcebispo explicou que os membros que decidirem concorrer a cargos do Executivo ou Legislativo serão afastados temporariamente das atividades internas da igreja, principalmente, das funções em pastorais.

Dom Belisário frisou ainda que mesmo nesses casos não haverá apoio formal da igreja. O religioso lembrou que a principal presença do catolicismo nas eleições é através dos fieis que têm plena liberdade de organização para candidaturas e apoios.

A candidatura de membros do clero maranhense é uma realidade nas urnas do estado. Em 2008 o padre William da Silva foi reeleito para mais um mandato como prefeito do município de Guimarães com 51,6% dos votos válidos.

Segundo Dom Belisário, a igreja tenta evitar o envolvimento dos celebrantes com a disputa eleitoral por conta da partidarização das candidaturas. “Para você se candidatar precisa entrar em um partido e o nosso trabalho não pode ser partidário. A igreja acredita que não há necessidade de padres serem candidatos. Mas, cada caso é um caso e podemos estudar”, declarou.

A presença da igreja a favor de um determinado candidato, independente de ser padre ou não, ocorreria apenas em casos extremos como em contraposição a um regime fascista, segundo Dom Belisário. Ele lembrou que indiretamente, devido ao sistema político entre o final da década de 70 e o início da década de 80, a igreja apoiou o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT) através das pastorais.

O arcebispo de São Luís entende como um processo normal a proximidade existente entre os partidos de esquerda com algumas das pastorais que atuam junto a movimentos sociais. “As pastorais sociais da nossa igreja como a Comissão Pastoral da Terra, o Conselho Indigenista Missionário, a Pastoral da Criança, do Idoso, da Sobriedade e várias outras pastorais abordam questões sociais que estão diretamente ligadas a questões de ordem política. Então é normal que esses grupos se aproximem”, argumentou.

Dom Belisário lembra que independente da discussão sobre a candidatura de membros da igreja, nós últimos quatro anos a CNBB tem proposto uma reforma política com uma ampla discussão sobre a forma de escolha dos candidatos, a formação dos partidos políticos e a própria função do estado. Ele citou a discussão sobre a Lei Ficha Limpa como uma das causas em que a igreja esteve envolvida por conta dessa reforma política.
O arcebispo informou que para difundir o debate estão sendo realizados eventos intitulados como semanas sociais em várias regionais com o tema “Qual estado nós queremos e para quê?”.

Outra orientação da Igreja Católica nos últimos anos é para que os fieis não deixem o processo eleitoral se esgotar no voto e acompanhem os trabalhos desenvolvidos pelos candidatos após as eleições, até como forma de cobrar as promessas de campanha. “Mais uma grande questão nossa são pessoas que vendem o voto. Opinião não se vende. Nesse sentido, a gente pede para os fieis votarem de maneira muito consciente e livre, o voto é secreto. Vamos escolher pessoas que são boas para nós e para a sociedade”, concluiu.

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