segunda-feira, 6 de abril de 2009

AÇAILÂNDIA CHORA A MORTE DE BAIANO


Seu corpo foi sepultado na tarde de domingo (05) sob uma grande comoção e uma forte chuva; deu a entender que até Deus chorou sua morte.


POR WILTON LIMA

Nilton Oliveira Amaral “O Baiano” morreu vítima de um AVC hemorrágico, deixando familiares e amigos em uma confusão de sentimentos de perda e revolta, que até nos levou ao patético questionamento da gratidão Divina – Porque Deus levou prematuramente o nosso grande amigo Baiano?


O COMEÇO DO FIM
Parecia mais um sábado de muita alegria, marca registrada do “Baiano”, a quem seus próprios familiares chamavam de “o dançador”, principalmente sua Irmã “Fia”. Não podia ouvir uma música, que já era tirando pra dançar quem estivesse por perto. Baiano era um misto de alegria, humildade e acima de tudo, uma felicidade que contagiava até os mais deprimidos. Até quando chorava, ele chorava de alegria, e olha que muitas vezes choramos juntos – tinha até parceiros de choro: Barbosa, Raimundo, Gilmar, Carlão, Lilí e Eu (Wilton Lima), além de outros tantos que o acompanhavam no derramamento de lágrimas.


Enfim, voltando ao fatídico sábado que parecia um outro qualquer... Como era de costume em qualquer comemoração, Baiano reunia esposa e filhos e em hipótese alguma deixava de passar na residência do inseparável amigo “Gilmarzinho” – foi o que aconteceu. O destino era a comemoração do aniversário de mais um amigo, Ivan, no entanto a viagem foi interrompida – dentro do veículo que os conduzia, Baiano sofreu um mal súbito e foi levado às pressas ao Hospital São Sebastião. Começava ali um verdadeiro martírio.


O MARTÍRIO
Os médicos que o atenderam no Hospital São Sebastião constataram de imediato a gravidade do problema e da necessidade urgente de interná-lo em uma UTI. Eis que cai sobre os ombros dos familiares e amigos que o acompanhavam, o desespero. O desespero e a revolta da constatação de que Açailândia não possui uma Unidade de Tratamento Intensivo – e agora o que fazer?

A única solução encontrada foi removê-lo para a cidade de Imperatriz, foram 70 quilômetros quase que infinitos, pois o que passava na cabeça de todos, era a estatística de tantos que já morreram nesse trajeto na busca de atendimento médico. Segundo informações, Baiano teria sofrido duas paradas cardíacas até chegar ao Socorrão de Imperatriz, onde foi atendido pelo médico cardiologista, Dr. Amauri, que já trabalhou em Açailândia e conhece de perto esses procedimentos. Dr. Amauri fez o seguinte comentário à família: “até quando vocês trarão os seus familiares mortos para Imperatriz, pela falta de atendimento hospitalar em Açailândia”?

Os primeiros procedimentos foram feitos pelo médico, mas ainda faltava a UTI – foram mais de duas horas agonizando, até conseguir no Hospital da Unimed a internação em uma Unidade de Terapia Intensiva. Do momento do AVC (derrame cerebral) sofrido por Baiano, até o atendimento necessário à garantia de sua vida, já se passavam mais de 04 horas, já era domingo.

MORTE CEREBRAL
Na segunda-feira (30) Açailândia recebe chocada a notícia da publicação do Boletim Médico, dando como certa, a falência cerebral do jovem pai de família, Nilton Oliveira Amaral “O Baiano”. Parentes e amigos não quiseram acreditar e relutaram em aceitar tal fato. Muitos se deslocaram para a cidade de Imperatriz e a partir daquele momento passaram a fazer vigílias e correntes de oração pela sua recuperação. Igrejas, pastores, evangélicos e não-evangélicos, católicos, enfim, amigos de todos os credos começaram buscar na fé, aquilo que os médicos anunciavam; que só um milagre poderia salvar a vida de Baiano.

É CHEGADO O FIM
A luta de Baiano pela vida atravessou de um sábado a outro. E foi na manhã deste outro sábado (03/04), que recebi um telefonema de que tudo havia acabado. Naquele momento a esperança deu lugar a dor. E logo veio a minha mente o texto de uma peça teatral que tem com o título: “o cemitério”.

A cena traz o seguinte: “que terríveis segredos a morte esconde a ponto de fazer da dor dos que aqui ficam uma simples peça do seu disfarce? Choro, mais por mim do que por você! Choro pela sua morte, mas também pela minha vida, vida que a partir de sua ida passa a ser uma folha em branco esperando pela assinatura da morte. E a terra que agora lhe esconderá, é o solo do meu calvário e as lágrimas com que rego esta terra servem apenas para enraizar ainda mais o meu ser em minha própria dor”.

DO VELÓRIO AO SEPULTAMENTO
O corpo de “Baiano” foi recebido em meio a muito choro e pranto, foi quando veio à tona mais uma vez as dúvidas relativas á Justiça Divina – por que meu Deus? Ah, como seria bom se conseguíssemos entender o porquê de Deus, mas como seria possível tal coisa se mal conseguimos entender o porquê do homem!

O Velório aconteceu na quadra de esportes da Igreja São Francisco, onde faixas com as mais diferentes homenagens foram dispostas. Coroas de flores enviadas por inúmeros amigos que não paravam de chegar poderiam ser de uma vasta beleza, se não fosse o fato e a tristeza retratada nos rostos da multidão molhados por uma imensidão de lágrimas.

Uma missa de corpo presente foi realizada, logo ali ao lado, na Igreja que leva o nome do mesmo Santo. A casa de Deus ficou completamente lotada e a emoção tomou conta dos presentes. O ponto mais emocionante da missa foi quando os amigos se puseram a testemunhar sobre aquele que nos deixava naquele momento. O choro tomou conta de todos quando o filho mais velho do “Baiano”, Wallace, resolveu lhe fazer uma homenagem. O choro tomou conta da fala, mas mesmo assim Wallace conseguiu entoar o trecho de uma música de Roberto Carlos, que Baiano adorava cantarolar: “Eu tenho tanto pra lhe falar, mais com palavras não sei dizer... Mas como é grande o meu amor por você”.

Na saída da Igreja, a alça do caixão foi acirradamente disputada, pois todos queriam prestar as suas últimas homenagens ao grande amigo que agora sairia em um cortejo fúnebre com destino àquele que seria o seu último e solitário local de descanso. As filas que se formaram foram gigantescas - carros, ônibus e motocicletas se posicionavam um atrás do outro, fazendo parecer uma grande carreata política, coisa que tenho certeza, fez com que o nosso amigo “Baiano”, mesmo fechado dentro daquele caixão, abrisse aquele largo sorriso que lhe era peculiar. “Baiano” não perdia uma carreata política, largava até os afazeres e saía convidando os amigos a participarem junto com ele.

O cemitério ficou pequeno para a multidão que conseguiu chegar até o local do sepulcro, pois muitos veículos ficaram há uma distância de pelo menos dois quilômetros do local e não puderam participar da última despedida. Baiano foi sepultado em meio á muita comoção. E Deus parece também ter sentido a sua morte, pois fechou sua cara em uma nuvem negra que tomou conta do Céu, para em seguida derramar suas lágrimas em forma de chuva. E foi debaixo de muita chuva, que não afastou ninguém do cemitério, que demos o nosso último adeus, ou simplesmente tchau e até mais ver, como disse o velho amigo Silvio, que ainda conseguiu esboçar uma brincadeira e disse: “olha Hiltinho, o nosso zagueirão se foi, depois seremos nós, pois o time que ele agora defenderá, vai precisar de um meio-campo como Eu e Raimundo, além de um atacante como você”.

HOMENAGEM DOS AMIGOS
Você que se foi amigo, era digno de uma multidão em sua despedida e ela se fez presente, numa demonstração clara que ainda vale a pena fazer o bem. Até em morte e na hora do seu sepultamento servistes de exemplo a todos nós. No entanto, aqui estamos nós, não somente tristes, mas também nos sentindo solitários. Despedir, mas despedir como se o ser que agora habita o nosso calvário primeiro habitou o nosso próprio ser? Então teremos morrido também? Não. A morte nos seria boa demais e não causaria a dor que sentimos agora. Sabemos que só o tempo amainará a dor desta ferida, mas sabemos também que esta cicatriz nos será eterna como também será eterna a nossa incompreensão, mas o que importa? De que vale a nossa dor ou a nossa incompreensão para o mundo? O mundo que dita normas, regras, preconceitos e proibições é exato demais para ser complacente com aqueles que ousam desafiar as justas medidas de suas moralidades. Talvez amigo, a partir de agora você esteja apenas escondido sobre este denso véu de terra, escondido em razão da vergonha de ter feito parte deste mundo tão cruel! De uma coisa temos a mais pura certeza, você merece um mundo bem melhor, pois a beleza de tudo reside na alma de cada um. A gente se vê amigo. Tchau!!!
Wilton Lima


2 comentários:

Anônimo disse...

shinif

Anônimo disse...

elle foi e sempre será um campeão....