* Por Anfrízio Menezes
Isto é fato: as eleições municipais deste ano já produzem os primeiros (aliás, os segundos, terceiros...) movimentos no complicado tabuleiro político do Brasil.
E não sugiro a ninguém tentar entender como esses fatos evoluem até a definição das chapas e das composições previstas para junho/julho próximos, pois não há lógica ou razão no processo. Na realidade, o que sobra são sentimentos adversos, rivalidade e, principalmente, oportunismo dos envolvidos.
É o que sempre se vê. E será o que veremos também neste ano.
Por quê? Ora, ora, a letra "D" de democrático presente em muitas siglas partidárias é invariavelmente ignorada e os candidatos, especialmente para prefeito, são escolhidos pela indicação dos caciques do partido (quando não se autoindicam).
Tem mais: as disputas das prévias partidárias, que seriam salutares, não acontecem sob o risco de rompimento da agremiação em torno do nome escolhido.
Isso é a prova cabal de que o conceito de democracia ainda não foi digerido pelos partidos políticos (quanto mais pelos seus filiados e pela população). Pelo menos é o que nos sugerem...
Na teoria, até que seria normal que se apresentassem vários nomes e que se construísse o debate de consenso entre eles até que um desistisse em nome do mais forte ou que os filiados decidissem por quem vale a pena lutar nas eleições. Todavia, essa idealização passa longe da realidade!
Já a prática mostra que, quando isso acontece, o “time” perdedor simplesmente abandona o projeto partidário, mesmo que seja da maioria. E este fato induz, erroneamente, à evitação do confronto prévio.
E desta forma, muitos filiados sequer são consultados ou sabem qual é o caminho que a agremiação tomará, porque nestas horas o feudo dos mandatários é murado e intransponível. Além dos jogos de escolha dos representantes, ninguém conhece a linha ideológica do partido ao qual pertence.
E nessa crise de identidade, candidatos a prefeito, a vice e a vereadores sequer lêem as diretrizes partidárias e, “cegos”, se lançam em verdadeiras coligações que, à luz dos seus estatutos, são verdadeiros “Frankensteins”.
Em condições normais seria impossível acomodar sob a mesma coligação partidos de tendência de extrema esquerda e de extrema direita, mas, na atual linha evolutiva, não há o mínimo estranhamento quando se vê PT e PSDB no mesmo outdoor (e palanque).
Esses são os “efeitos colaterais” de um país que necessita urgentemente de uma reforma política, que tem um povo que ainda não aprendeu, que não quer aprender e que não exerce os direitos e deveres de cidadãos minimamente politizados.
Essas são as consequências de uma população que abre mão da chance de debater e escolher politicamente o futuro dos próximos quatro anos pela troca de favores e oportunidades momentâneas.
E o lamentável é que a máquina político-partidária sabe disso e tira todo o proveito possível. Pois para esses “políticos” é bom que poucos entendam e se preocupem em como funciona a engenhoca que mantém sempre o mesmo grupo minoritário (minoritário em relação ao povo) no comando.
É o jogo de sempre... Que nunca termina!
* Anfrízio Menezes é advogado e gerente do Banco do Brasil. Nas hora vagas exímio mestre das escribas.
4 comentários:
Excelente artigo. Se aplica como uma luva em Açailandia e não só no grupo do prefeito, mas tbm no do grupo de oposição.
Amei a matéria essa é a mais pura verdade e principalmente quando o sr. diz que essas sao as consequencias da populçao que nao estão nem aí pra escolher um candidato só pensam em beneficiar-se... Parabêns mesmo, os politicos só mudarão quando o povo mudar; tambem se conscientisar em quem votar e porque vai votar... Aí chegará a vez da populaçao cobrar dos politicos.
Coitado. Esse Advogado nunca ouviu falar de teoria dos jogos nem tampouco conhece os curso de marketing e estratégia eleitoral existentes não só no Brasil quanto no exterior.
Belo texto. Coerente, em consonância com a moderna Ciência Política. Accountability, esse vocábulo de origem anglo-saxônica, que não tem tradução exata para o nosso idioma, mas em síntese significa o dever de prestar contas, para alguns, o exercício pleno da cidadania, algo tão, tão distante de nossa província tupiniquim. Saudações, mestre Anfrizio, do vosso humilde aprendiz,
Sidney Cardoso
Servidor Público Federal e acadêmico do curso de direito do Centro Universitário de Brasília
Postar um comentário