quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Se Deus não existe... Jornalismo imparcial também não.

* Por Anfrízio Meneses

Anfrízio MenezesDiante de muita lenga-lenga, disse-me-disse, futricas... E um pouquinho de verdade em torno do comportamento de alguns órgãos de imprensa (ou, pelo menos, de alguns dos seus signatários), este cronistinha de pouca tinta mergulhou em reflexões, análises, conjecturas e muita pesquisa acerca desse assunto.

Com muita vontade encontramos e, agora, com muita coragem, permitimo-nos reproduzir o texto abaixo, de autoria de Danielson Roaly:

“Talvez, meu primeiro erro ao redigir este artigo seria revelar minha posição sobre a existência ou não do jornalismo imparcial. Como este é um artigo opinativo, tenho a obrigação de ser imparcial, mas dando a minha opinião. Isso pode ser ilógico, mas tudo na realidade é um problema de semântica.

Ao debater o jornalismo imparcial as pessoas se confundem, entendendo imparcialidade como falta de posicionamento. Uma matéria pode, realmente, ser imparcial, mas com um posicionamento. Isto é simples, é o “abc” do jornalismo. Um jornalista deve relatar igualmente os dois lados de um fato.

‘O jornalismo deve ser imparcial, mas deve interpretar os fatos e guiar seus leitores. Fica evidente que há uma interpretação e um sentido que deve brotar naturalmente dos próprios fatos, com base nos preconceitos e concepções dominantes na sociedade, que se manifestam no chamado bom senso, expressão individual da ideologia hegemônica’(O Segredo da Pirâmide - Para Uma Teoria Marxista do Jornalismo, Adelmo Genro Filho, 1987).

Então, para discutir isso, convocamos de um lado os idealistas, que acreditam numa possibilidade remota da existência do jornalismo imparcial. Do outro lado convocamos os céticos, que afirmam categoricamente, baseados nas suas próprias experiências, que não existe esse tipo de jornalismo.

Esta é a discussão do ateu e do cristão. Logo o ateu pergunta: "Mas você já viu Deus?" Pergunto então: "Você já viu jornalismo imparcial?" O argumento de réplica vem rápido: "Quem disse que nossa experiência, nossa vivência e, talvez, nossa própria prática jornalística, podem ser usadas como argumento para determinar a solução deste problema?”.

Não é porque você nunca viu Deus, que significa que ele não exista. Se no jornalismo fala-se de imparcialidade é porque ela existe, ou pelo menos já existiu em algum lugar. Nem que seja na mente do idealizador do próprio jornalismo. E se não existe, deveria existir. E se deveria existir e não existe é porque nós jornalistas não a colocamos em prática.

Caímos novamente naquele velho “abc” do jornalismo. Mas é que por trás de um texto jornalístico existe uma pessoa e uma equipe que carregam sua visão de mundo acerca dos temas que abordam.

Como ser então imparcial? A profissão de jornalista deve criar no indivíduo o senso de resignação e anulação de sua própria forma de pensar, em favor do bom jornalismo e da cobertura igualitária dos fatos. Esse é o jornalismo imparcial.

Ao você escrever uma matéria ou um artigo sobre um assunto que você já tem um posicionamento, deve-se esquecer, anular. Depois de quebrada essa barreira, deve então nivelar o seu conhecimento dos dois lados do fato. Se você conhece bem sobre um lado do fato, deve conhecer o mesmo tanto e com a mesma intensidade sobre o outro lado.

Talvez eu não tenha lhe convencido a respeito do jornalismo imparcial, e sei por quê: em algum momento da história deve ter surgido um cético que não tinha mais necessidade da existência dessa categoria de bom jornalismo, que acabou por decretar sua morte. Assim como Nietzsche que, por não sentir necessidade social da existência de Deus, decretou a morte do mesmo.

A partir de então, muitos começaram a acreditar que Deus não existe.

Deus existe sim e o jornalismo imparcial também. Os homens é que não acreditam nele...”

... Ou não querem praticá-lo?

* Anfrízio Meneses é advogado e ex-gerente do Banco do Brasil em Açailândia e Imperatriz.

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