* Por REINALDO POLITO
Bolsonarista?
Você é fascista, nazista, ditador!
Petista?
Você é ladrão, comunista, incompetente!
Quantas
vezes já ouvimos esses xingamentos de lado a lado! E dentro da própria família,
ou no círculo dos amigos mais queridos. As pessoas se expressam de maneira
raivosa, agressiva e irrefletida. Em certas circunstâncias, aqueles que eram
tão caros no relacionamento de longa data se afastam com sentimento de rancor e
não retornam mais ao convívio.
Já
tive a oportunidade de tratar aqui deste tema, mas os debates políticos tomaram
rumos tão incontroláveis que julguei oportuno trazer o assunto novamente para a
nossa reflexão. Os defensores da esquerda agridem porque se sentem injustiçados
pela derrota nas urnas. Os da direita porque não se conformam com o fato de ter
alguém ainda com a "petulância" de fazer a defesa daqueles que,
segundo eles, quebraram o país.
De
maneira geral, as conversas começam em tom cordial, ameno, como se fossem uma
simples troca de ideias. Com o passar do tempo um dos interlocutores fala mais
alto, para dar ênfase às suas ideias. O outro se sente ofendido e responde com
volume mais elevado. Pronto, a encrenca já está armada. E como alerta o dito
popular: em discussão sobre política quem perde primeiro é a razão.
Sem
contar as redes sociais. Como as pessoas não ficam frente a frente, acham que
as palavras escritas não provocarão ressentimentos. O efeito, porém, pode ser o
mesmo que ocorre com a comunicação tête-à-tête, e em certas circunstâncias
ainda pior, pois o texto fica lá, guardado, para que se recordem das agressões
recebidas. E mesmo depois de muito tempo, sempre que a mensagem for lida dará a
impressão de que a provocação acabou de ocorrer.
Por
isso, vale a pena ponderarmos se vale mesmo a pena entrar numa contenda
política. Não que não se possa conversar a respeito de temas políticos, já que
esse assunto é instigante e até sedutor. Quando, entretanto, a boa conversa se
transforma em confronto, é hora de tirar o time de campo.
É claro que, se não concordar com o interlocutor, não irá se despersonalizar dizendo que está de acordo. Talvez uma boa solução seja a de ficar calado, ouvir sem discordar, e na primeira oportunidade mudar o rumo da conversa. Se perceber que ele insiste na discussão, a melhor alternativa, provavelmente, será a de dar uma desculpa e se afastar.
É claro que, se não concordar com o interlocutor, não irá se despersonalizar dizendo que está de acordo. Talvez uma boa solução seja a de ficar calado, ouvir sem discordar, e na primeira oportunidade mudar o rumo da conversa. Se perceber que ele insiste na discussão, a melhor alternativa, provavelmente, será a de dar uma desculpa e se afastar.
A
melhor aula que recebi sobre civilidade política foi ministrada na prática por
aquele que sempre considerei o melhor orador que tive a felicidade de conhecer,
Blota Júnior. Blota não só foi o melhor orador como também o mais competente
apresentador da história da televisão brasileira. Junto com sua esposa Sonia
Ribeiro apresentou os inesquecíveis festivais da MPB dos anos 1960, promovidos
pela TV Record.
Certa
vez, eu o convidei para participar de uma das formaturas do nosso curso de
Expressão Verbal. Compôs a mesa de honra com ele o deputado Fernando Mauro
Pires Rocha, líder do PTB em São Paulo e dono do Hospital Alvorada. Os dois
haviam sido ferrenhos adversários políticos, pois disputavam causas
antagônicas.
"Estar
presente nesta solenidade, ao lado do meu querido companheiro de lutas Fernando
Mauro Pires Rocha, é motivo de grande alegria. Fernando Mauro sempre esteve nas
trincheiras adversárias e mesmo assim, com a força democrática da comunicação,
nós conseguimos, ao longo de 30 anos de vida pública, jamais estarmos no mesmo
partido, jamais estarmos na mesma bancada e jamais deixarmos de ser
amigos".
Após
falar desse relacionamento, Blota Júnior revela as qualidades do adversário:
"Fernando
Mauro merece o nosso alto respeito; pela sua fibra intangível; pela fé
extraordinária do seu coração; pela força com que assoma à tribuna, quando,
então, esta personalidade viva e esfuziante se transfigura e, lá do alto, traz
a caudal de todos os seus pensamentos, e torna-se difícil enfrentá-lo".
E
agora o momento sublime do discurso de Blota. A aula que devemos absorver e
avaliar com todo o cuidado sempre que desejarmos falar de um adversário:
"E
tantas vezes nos enfrentamos e nos defrontamos, que, hoje, podemos abraçar-nos,
na certeza do dever cumprido; demonstrando assim que o dom da palavra deve ser
cultivado, pois somente falando a linguagem da verdade, somente falando a
linguagem da pureza dos nossos corações, podemos manter intactos os valores
humanos e podemos ser amigos, embora adversários ao longo da carreira
política".
Já
li esse discurso em aula, nas palestras e no silêncio do aconchego do meu lar
uma infinidade de vezes. Sempre me emociono. Não só pela saudade dos queridos
amigos Blota e Fernando Mauro, mas também dos mestres que deixaram um legado
tão precioso para todas as gerações.
Esse
é, portanto, um excelente exemplo para a nossa reflexão: será que convém, por
causa de diferenças políticas, transformar amigos e conhecidos, por quem temos
tanto apreço, em desafetos? Pensemos nas conversas que tivemos nos últimos
tempos. Avaliemos como temos nos comportado. E, principalmente, se poderíamos
ter agido de maneira mais amistosa e cordata.
Superdicas da semana:
Nem
todo adversário é necessariamente um inimigo
Adversários
de hoje poderão ser grandes aliados amanhã
Diferenças
políticas são normais
Devemos
evitar confrontos políticos, especialmente com as pessoas de relacionamento
próximo.
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