Ao desafiar explicitamente o STF (Supremo Tribunal Federal) e afirmar que não seguirá mais decisões do ministro Alexandre de Moraes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "dobrou a aposta" e radicalizou seu discurso, ficando ainda mais isolado em prol de uma estratégia para permanecer no poder em 2022. Essa é a avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo UOL após as declarações do chefe do Executivo em atos no 7 de Setembro.
Nos atos de que participou, em São Paulo e em Brasília, xingou Moraes de "canalha" e fez ameaças ao presidente do Supremo, Luiz Fux.
Bolsonaro afirmou que, caso Fux não "enquadre" Moraes —relator das principais investigações que correm na Justiça contra o presidente e seus apoiadores—, o STF "pode sofrer aquilo que nós não queremos".
"A situação mudou de patamar, sem dúvida nenhuma. Chegamos a um ponto irreversível da crise. Com as falas do presidente e os ataques que ele desferiu ao STF, não há como reatar relações", afirma o cientista político e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Cláudio Couto.
Cientista político e professor do Insper, Carlos Melo também diz ver Bolsonaro isolado e lembra que, ao contrário do que se imaginava, não houve participação ativa da Polícia Militar ou de membros das Forças Armadas nas manifestações convocadas pelo presidente e seu entorno.
"Nesse sentido, me parece que os governadores ganharam uma queda de braço, o que foi muito importante e positivo para o Brasil."
Doutoranda em ciência política e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), Lilian Sendretti diz acreditar que Bolsonaro faz uso de uma espécie de "teste" do limite dessa polarização nas ruas. "E isso não é à toa, tem a ver com uma lógica eleitoral", diz.
Couto e Melo avaliam ainda que a repercussão das falas de Bolsonaro pode, de certa forma, trazer mudanças sobre a abertura de um processo de impeachment contra o presidente.
Mais de cem pedidos de impeachment de Bolsonaro já foram apresentados ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que até o momento decidiu por não pôr nenhum deles em discussão.
Em São Paulo, maior aposta de Bolsonaro para reunir manifestantes, 125 mil pessoas participaram do ato. Ou apenas 6% do que era esperado pela organização.
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