sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A CADEIRADA FEZ MAL A PABLO MARÇAL EM SÃO PAULO

 

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos

Gabriel Silva/AtoPress/Estadão Conteúdo e Mariana Pekin/UOL

Nunes e Boulos consolidam liderança, enquanto Marçal patina

Carla Jimenez

A cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) no último domingo durante o debate da TV Cultura foi uma das cenas mais grosseiras da política brasileira dos últimos tempos. Mas, recorrendo a uma metáfora religiosa — recurso em alta entre os candidatos no Brasil —, parece que Deus escreveu certo por linhas tortas, a se julgar pelo sentimento geral do eleitorado de São Paulo. A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta (19) e a Quaest, de quarta-feira (18), mostram que Marçal estacionou nas pesquisas. Na Quaest, inclusive, reverteu a tendência de crescimento que ele vinha apresentando desde o mês de julho.

No Datafolha, Ricardo Nunes (MDB) manteve os 27% que já haviam sido registrados na semana passada. Ele divide a liderança com Guilherme Boulos (PSOL) que oscilou levemente para cima, de 25% para 26%, em uma semana. Já o candidato do PRTB se manteve com os mesmos 19%. A margem de erro do instituto Datafolha, que ouviu 1.200 pessoas entre terça e esta quinta, é de 3 pontos porcentuais para cima ou para baixo, o que deixa o ex-coach empatado tecnicamente com Boulos.

Na Quaest, porém, Marçal caiu para 20% nesta semana, depois de alcançar 23% das preferências do eleitorado na pesquisa divulgada no dia 11 de setembro. Até então, a Quaest fazia a medição mensal, e em agosto Marçal marcava 19%. Em julho, eram 13%, e em junho, 11%.

Datena manteve os 6% no Datafolha, em empate técnico com Tabata Amaral (PSB), que soma 8%. Na Quaest, porém, o tucano teve uma oscilação positiva. Datena vinha em tendência de queda, mas subiu de 8% para 10% entre a semana passada e esta. A Quaest, que também tem margem de erro de 3%, foi feita entre o dia 15, e terça-feira 17 — ou seja, ouviu ao menos 85% dos entrevistados (1.200) depois do debate da Cultura, que foi transmitido ao vivo a partir das 22h de domingo e transmitiu a fatídica cadeirada.

Pelo andar da carruagem, Marçal parece começar a se isolar num possível terceiro lugar. Nesse caso, terá errado quem apostava que a estratégia de Marçal ganharia terreno até o final. Também, quem subestimou o eleitor e sua capacidade de avaliar os candidatos.

O resultado da Quaest pode ser lido apenas como uma foto no calor do momento. Mas, o Datafolha, captou, por exemplo, o debate transmitido na terça-feira (17) pela RedeTV!/UOL e que teve grande audiência na expectativa pós-cadeirada. E a percepção em relação aos concorrentes não mudou.

As agências de monitoramento de redes já vinham captando há algum tempo um sentimento negativo quanto à postura do ex-coach nos embates com seus adversários. Na TV Gazeta, uma pesquisa qualitativa com quem acompanhava o debate transmitido no dia 1º de setembro mostrou que os espectadores apoiavam os revides a Marçal, que provocava todos os adversários. Datena, inclusive, chegou a sair do seu púlpito e se posicionar diante de Marçal após nova investida. Acabou voltando atrás, mas chegou a dizer que teve vontade de dar um tapa em Marçal.

Nesta segunda, a agência Palver mostrou que o tema cadeirada explodiu no WhatsApp, mas curiosamente, 60% das menções eram favoráveis a Datena e negativas para Marçal. Foi o sentimento de "mereceu", depois que o influenciador chamou o tucano de "arregão" ao vivo e questionou se ele era "homem". "Você não atravessou o debate esses dias para me dar um tapa e falou que você queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso. Você não é homem ." Mexeu com os brios de Datena, e ele foi para cima de Marçal. "Prevaleceu a sensação de que o valentão, o sujeito que faz bullying, teve o que mereceu", diz Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva.

O sentimento de "revide justo" (olho por olho e dente por dente, voltando a outra metáfora bíblica) não se diluiu ao longo da semana, segundo os estudiosos. E a rejeição a Marçal, que passou de 41% para 45% na Quaest e de 44% para 47% no Datafolha, parece comprovar que a cadeirada teve mais aceitação do que rejeição.

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