segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

GUIA DO SUPERMERCADO: Não caia no marketing do açúcar

 

Colunista

Reprodução/Arte UOL

Não caia no marketing do açúcar

Sari Fontana

Natural, orgânico e integral: se você pensa que essas palavras garantem que um alimento é saudável, cuidado. A crença pode estar prejudicando sua saúde.

A indústria aproveita a boa fama desses termos e os coloca em destaque nos rótulos para vender mais. Mas a verdade é que nem tudo que é natural é realmente mais saudável. Os rótulos de açúcar são um exemplo disso, e vêm estampando essa tendência.

Embora muita gente acredite que açúcar mascavo e demerara são mais saudáveis do que o açúcar branco refinado, na prática eles são bem parecidos. A diferença entre eles está na presença de uma pequena quantidade de melaço, que confere ao açúcar mascavo e demerara uma cor mais escura e um leve sabor caramelizado. Esse melaço também adiciona pequenas quantidades de minerais como cálcio, ferro e potássio. Pequeníssimas mesmo, por exemplo: uma colher de sopa de açúcar mascavo de açúcar mascavo contém 99 mg de potássio.

 

Para atingir a recomendação diária de potássio (IDR: 4700 mg) seria necessário consumir cerca de 47 colheres de sopa de açúcar mascavo — quase um quilo! O mesmo racional vale para os demais micronutrientes nesses produtos. As vitaminas estão quase todas ausentes, mas uma que está presente é a B6. Porém, para atingir a dose recomendada dessa vitamina, seria preciso ingerir mais de 3 kg de açúcar.

 

Para obter quantidades significativas dessas substâncias por meio do açúcar, seria necessário ingerir uma porção excessiva que impactaria negativamente a saúde, comprometendo os potenciais benefícios dessas vitaminas e minerais.

  • O único nutriente presente em quantidade significativa no açúcar é o carboidrato.

No fim das contas, açúcar mascavo, demerara e branco têm um efeito metabólico praticamente igual: todos elevam a glicose no sangue rapidamente e, em excesso, contribuem para problemas como obesidade, resistência à insulina, síndrome metabólica, além de cáries. O que muda é basicamente a cor — e o preço.

Cana-de-açúcar é um vegetal natural e livre de glúten

A marca Caravelas descreve seu açúcar como "natural", um termo que não faz sentido nesse tipo de produto, visto que todo o açúcar tem origem natural: a cana-de-açúcar.

false

Reprodução/Arte UOL

A Vitao escolheu a palavra "integral" para destacar no rótulo, outro termo que remete à saúde, mas não se traduz em benefícios concretos, em se tratando desse ingrediente. No site do fabricante, encontramos a informação: "aqui não tem colesterol e gorduras trans", algo que é óbvio e se aplica a qualquer açúcar.

false

Reprodução/Arte UOL

O açúcar União tem uma versão "orgânica" que apela à sustentabilidade, embora o produto final seja equivalente aos outros açúcares.

false

Reprodução/Arte UOL

Já a Vitalin anuncia que seu açúcar integral é também sem glúten, o que é esperado para qualquer açúcar, pois a cana não tem glúten.

false

Reprodução/Arte UOL

Além disso, a Vitalin alega em seu site que esse produto contém fibra, algo que não é verdade. Basta verificar as tabelas de referência para ver que esse tipo de açúcar é isento de fibras. Aliás, curiosamente, a própria tabela nutricional desse referido açúcar mostra um total de zero fibras.

false

A Vitalin alega que seu açúcar é fonte de fibras, mas a tabela nutricional no site da marca mostra que o produto tem um total de zero fibras

Reprodução do site Vitalin

Ser de origem natural não garante a segurança de um alimento, já que os produtos naturais e sintéticos podem ser compostos da mesma substância química —no caso do açúcar, a sacarose. O fator mais importante que pode afetar a segurança de um ingrediente é a dose, independentemente da sua origem.

Se a sua intenção é reduzir os danos do açúcar na alimentação, não adianta trocar um tipo pelo outro. O que realmente faz diferença é diminuir o seu consumo como um todo. Açúcar é açúcar, mesmo que tenha uma cor diferente ou um nome sofisticado na embalagem.

Nenhum comentário: