sexta-feira, 4 de abril de 2025

China anuncia tarifas de 34% contra os EUA, e mercados afundam ainda mais

 

Traders trabalham no pregão da Bolsa de Valores de Nova York

Traders trabalham no pregão da Bolsa de Valores de Nova York

Michael M. Santiago/Getty Images/AFP


A China anunciou hoje uma tarifa de 34% sobre todos os produtos importados dos EUA. Segundo o Ministério do Comércio, a taxa entrará em vigor a partir da próxima quinta.

A medida é uma retaliação à tarifa, também de 34%, contra o país anunciada por Donald Trump anteontem. A tarifa americana se soma à de 20% imposta anteriormente, o que eleva a taxação sobre produtos chineses nos EUA a pelo menos 54%.

 

Ontem, o governo chinês chamou a iniciativa americana de "uma típica ação de intimidação unilateral". O país também imporá controles às exportações de terras raras aos EUA e afirmou que contestará a política comercial americana na OMC.

A taxação das importações dos EUA devem beneficiar produtos brasileiros que concorrem com similares americanos no mercado chinês, caso, por exemplo, da soja.

Mercados voltam a despencar

O anúncio chinês de tarifas de 34% sobre produtos americanos aumentou as apostas em uma recessão global e aprofundou a crise nos mercados internacionais hoje.

As bolsas da Ásia voltaram a fechar em queda, e as europeias abriram com perdas maiores do que as registradas ontem, com os principais índices em queda de 4% ou mais.

O preço do petróleo despencou mais de 7%, o dobro da queda de ontem.

Os índices futuros apontam para mais quedas acentuadas nas bolsas americanas. Ontem o S&P 500, principal índice da Bolsa de Nova York, caiu cerca de 6%, o pior resultado desde o início da pandemia em 2020.

"O mercado está fazendo uma coisa: precificando a recessão global", disse o analista do Deutsche Bank George Saravelos ao Financial Times.

 

Canadá taxa carros americanos

Apesar de ter ficado de fora do anúncio de Trump na quarta-feira, o Canadá anunciou ontem tarifas de 25% sobre os carros produzidos nos EUA.

A medida é uma retaliação à tarifa de mesmo valor imposta pelos EUA anteriormente e que entrou em vigor ontem. Ela não vale, porém, para os veículos que cumprirem a regra de componentes locais prevista no acordo de comércio entre os dois países e o México.

Como resultado das tarifas americanas sobre veículos fabricados no exterior, a Stellantis anunciou hoje a suspensão de sua produção em algumas fábricas no Canadá e no México.

A empresa é um dos maiores fabricantes do mundo e controla as marcas americanas Chrysler, Jeep e Dodge, além de Fiat, Citroen e Peugeot, entre outras.

Conta de padaria

A revelação de como os EUA calcularam as tarifas anunciadas por Trump na quarta-feira deixou economistas de todo o mundo surpresos.

De acordo com um documento publicado pela agência de comércio USTR, a base da taxação foi calculada dividindo o déficit dos EUA no comércio de produtos com cada país e dividindo esse número pelo valor total das importações, também de produtos.

A tarifa foi calculada dividindo o resultado dessa conta por dois. Os números da balança de serviços, em que os EUA costumam ser superavitários, não entraram no cálculo.

"Há tanta coisa errada com essa abordagem, que é difícil saber por onde começar", escreveu em sua newsletter o Nobel de Economia Paul Krugman.

Para Thomas Sampson, professor da London School of Economics, a fórmula é "uma tentativa de disfarçar a obsessão equivocada de Trump com os desequilíbrios comerciais bilaterais" e "não há nenhuma justificativa econômica" para as tarifas.

"O que Trump chamou de tarifa recíproca (...) é tarifa estimada para fechar o déficit comercial americano com os países, baseada em uma conta de padaria", disse Pedro Rossi, professor livre-docente do Instituto de Economia da Unicamp, ao colunista do UOL Leonardo Sakamoto.

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