quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Polícia Federal defende presença de agentes dentro da residência de Bolsonaro

A corporação citou como exemplo um rascunho de pedido de asilo político na Argentina encontrado em posse do ex-presidente.


Em ofício enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal (PF) alertou para as limitações do monitoramento eletrônico do ex-presidente Jair Bolsonaro e defendeu a presença de agentes policiais dentro de sua residência para evitar uma eventual fuga. O documento, assinado pelo diretor-geral Andrei Rodrigues em 26 de agosto, argumenta que a tornozeleira eletrônica é insuficiente por depender de sinais de operadoras de telefonia, sujeitos a falhas técnicas, áreas de sombra ou interferências deliberadas .

A manifestação da PF contrapõe a posição da Procuradoria-Geral da República (PGR), que havia recomendado apenas equipes de prontidão em regime 24 horas no entorno do condomínio, sem invasão da esfera domiciliar. Para a PF, essa medida é ineficaz, pois não impediria a consumação de uma fuga. O ofício apresenta duas alternativas: vigilância ostensiva no condomínio (com fiscalização de veículos e pessoas) ou a presença de agentes dentro da casa do ex-presidente, considerada a opção mais segura.

A PF destacou que a tornozeleira em uso por Bolsonaro depende de sinais de telefonia e GPS, que podem falhar. Em caso de perda de conexão, violações só seriam detectadas posteriormente, dando tempo hábil para uma fuga. A corporação citou como exemplo um rascunho de pedido de asilo político na Argentina encontrado em posse do ex-presidente, além de alegações de que ele poderia buscar refúgio na Embaixada dos EUA.

Para embasar seu pedido, a PF mencionou o caso do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, o “Lalau”, condenado por desvios milionários na construção do Fórum Trabalhista de São Paulo. Em 2006, o STF autorizou a permanência de agentes dentro de sua casa durante a prisão domiciliar, estabelecendo um precedente para vigilância física direta.

A administração do Condomínio Solar de Brasília, onde Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, já havia emitido normas sobre uso de drones e negado rumores de expulsão de moradores. A presença policial ostensiva no local, geraria desconforto e possíveis contestação jurídica sobre proporcionalidade. A defesa de Bolsonaro classificou o pedido da PF como “constrangimento desnecessário”.

O ministro Alexandre de Moraes encaminhou o ofício à PGR para novo parecer. Sua decisão, esperada para os próximos dias, definirá não apenas os termos da vigilância sobre Bolsonaro, mas também um marco para a efetividade do monitoramento eletrônico em casos de alta repercussão política 611. O julgamento do ex-presidente pela acusação de tentativa de golpe de Estado está marcado para começar em 2 de setembro.

Bolsonaro cumpre prisão domiciliar desde 4 de agosto, por decisão de Moraes, no âmbito de inquérito que investiga coação a autoridades e obstrução da Justiça. Além da tornozeleira, ele tem recolhimento noturno e está proibido de usar redes sociais ou contatar embaixadas.

 

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