sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Do emagrecimento ao risco à saúde: a polêmica das ‘canetas emagrecedoras’ para atletas

Professora do IDOMED destaca os efeitos colaterais causados pelo uso indiscriminado de medicamentos emagrecedores no esporte


As canetas emagrecedoras, como ficaram popularmente conhecidos os medicamentos injetáveis originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes, continuam gerando discussões e polêmicas, especialmente pelo uso inadequado voltado ao emagrecimento. Agora, essa prática se estende também ao esporte de alto rendimento.

Recentemente, a equipe de jornalismo do GE (Globo Esporte) revelou o caso de um atleta profissional de futebol que, sob pedido de anonimato, recorreu a duas aplicações de semaglutida, um dos medicamentos contidos nas canetas, para atingir o peso desejado. Ele perdeu sete quilos em apenas duas semanas, passando de 91 kg para 84 kg.

Pressionado pela falta de emprego havia meses, o jogador viu no rápido emagrecimento uma saída, mas o efeito foi contrário: fraqueza e perda de explosão muscular acabaram comprometendo sua performance na volta aos treinos. Segundo a farmacêutica e professora do IDOMED FAMEAC, Maria Simone Mignoni, essa queda de rendimento está diretamente ligada ao mecanismo de ação e aos efeitos colaterais dos análogos do hormônio GLP-1, que reduzem a ingestão calórica e impactam o metabolismo energético. Para atletas, cuja demanda energética é muito alta, essa redução pode ser insuficiente para sustentar treinos intensos e a recuperação muscular, causando fadiga e diminuição da performance.

Riscos à saúde

A especialista destaca que, do ponto de vista farmacêutico e de saúde, o risco não compensa. “Todo medicamento é potencialmente perigoso e exige uma avaliação de risco-benefício. Utilizar uma medicação potente, desenvolvida para tratar doenças crônicas, apenas para fins estéticos ou para uma perda de peso rápida, ignorando os efeitos colaterais, é uma prática perigosa. O emagrecimento saudável, especialmente para atletas, deve vir de uma combinação de dieta balanceada e treinamento adequado”, afirma Maria Simone.

O uso sem supervisão médica expõe o atleta a riscos relevantes já descritos na bula desses medicamentos. Entre eles estão pancreatite (ainda que rara), risco de tumores de tireoide — incluindo o carcinoma medular (CMT), um tipo incomum de câncer —, problemas na vesícula biliar, como colelitíase e colecistite, além de possível lesão renal grave.

Também é importante lembrar que buscar esses medicamentos sem receita aumenta o risco de adquirir produtos falsificados ou contrabandeados, que podem estar armazenados inadequadamente, conter doses incorretas ou até outras substâncias nocivas, ampliando ainda mais os perigos.

“Sacrificar a saúde, o bem-estar e o próprio rendimento esportivo em troca de uma perda de peso que pode ser temporária e prejudicial, com perda de massa muscular, não é uma estratégia inteligente nem segura”, finaliza a professora do IDOMED.


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