sexta-feira, 20 de julho de 2012

Especialistas apontam possibilidades de falhas na urna eletrônica…

Desde que foram usadas pela primeira, em 1996, as urnas eletrônicas brasileiras são ovacionadas ufanisticamente como invioláveis pela Justiça Eleitoral.

E a propaganda oficial tratou de criar este conceito no inconsciente coletivo, a ponto de tornar quase blasfêmia qualquer questionamento ao equipamento de votação.

Mas um grupo de estudiosos, da mais alta capacitação técnica, põe dúvidas sobre o aparelho de votar usado no Brasil.

O engenheiro Paulo Barreto, especialista em criptografia da Universidade de São Paulo, e o professor Diego Aranha, doutor em Ciência da Computação, da Universidade de Brasília, por exemplo, conseguiram hackear a urna eletrônica dentro do próprio Tribunal Superior Eleitoral.

Diego atacou o comando responsável por registrar os votos de forma aleatória. Ao fim do dia, a equipe da UNB tinha a ordem exata em que os votos entraram na urna – e revelaram, inclusive, o horário preciso em que cada eleitor apertou o “confirma”.

De acordo com os estudiosos, descoberto isso, seria possível identificar o voto de cada um dos eleitores – em manipular a vontade popular, por meio do famoso “voto de cabresto”.

A descoberta foi em março deste ano, desde quando o TSE garante ter corrigido o erro. Mas não há garantias disso.

E é sempre assim. A Justiça Eleitoral se nega a falar sobre eventuais falhas – e quando um especialista apresenta possibilidades de violação da urna, a mídia colaborativa trata de “abafar o caso”.

- Há um mal estar com relação a quem denuncia as urnas eletrônicas. Algumas pessoas nos veem como autores de teorias da conspiração - diz o professor Clóvis Torres Fernandes, da área de Ciência da Computação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

O ufanismo é outra arma da Justiça Eleitoral para abafar eventuais denúncias de falhas na urna eletrônica.

O TSE e a mídia brasileira vendem ao restante da população a idéia de que o Brasil é pioneiro nesta tecnologia. Com a massificação desta idéia, deixa pouco ou nenhum espaço para questionamentos.

Umas das propagandas pró-urna eletrônica é a difusão de que mais de 50 delegações vieram conhecer a urna eletrônica brasileira. Mas esconde o fato de que nenhum deles importou o sistema.

Outros países usam sistema de votação eletrônico, além do Brasil.

Na Argentina, o eleitor usa uma cédula com chip, que é depositada em outra máquina e embaralhada. Na Alemanha, a Corte Suprema proibiu o sistema em 2009 por não abrir possibilidade de recontagem.

A Índia usava um sistema parecido com o do Brasil, mas, em 2010, um grupo hackeou uma urna, mudando a soma dos votos. A partir de então, a Justiça Eleitoral adotou uma impressora, que repassa o voto ao eleitor e permite recontagem, em caso de dúvida.

No Brasil, a falta de preocupação do TSE com os ataques internos é uma das maiores preocupações dos críticos. Como justificativa, a justiça alega que, quanto menos gente envolvida no sistema, mais seguro ele é.

Responsável pelos softwares usados entre 1996 e 2000, o empresário Frederico Gregório, da Microbase, cansou de exigir ao TSE maior segurança interna no manuseio dos equipamentos.

Em 2006, com medo de que, em caso de fraude, sua empresa fosse responsabilizada – mesmo depois de ter encerrado o serviço – Gregório enviou carta que foi lida no TSE. No documento, ele afirmou a possibilidade de fraude.

- Qualquer tentativa de fraude intentada contra as eleições oficiais poderia, sim, ser perpetrada - disse a carta, lida no pleno do tribunal.

Para mostrar a falha no sistema, o próprio Gregório já desenvolveu um software-ladrão, em que os votos de um candidato migram para outro.

Mesmo diante de todas estas possibilidades – e com a fraude de Alagoas, em 2008, completamente abafada – a Justiça Eleitoral vai vendendo a idéia de supersegurança da urna eletrônica, assimilada integralmente pela mídia colaborativa.

E quem questiona, assim como nas religiões, é tido como blásfemo ou apóstata…

Inspirada em reportagem da revista GQ, de julho de 2012.

Fonte: Marcos D’Éça.

Um comentário:

Aparício Fernando disse...

Em Saquarema-RJ aconteceu um fato muito estranho. Antes das eleições era só andar pelas ruas e perguntar em quem o eleitor iria votar que a resposta era unânime: Pedro Ricardo, candidato da oposição. Pois bem, o rapaz perdeu em todas, eu disse todas as 173 urnas da cidade. Perdeu e perdeu de muito. O mais estranho é que hoje, um mês após as eleições, você vai às ruas e os eleitores continuam unânimes em dizer que votaram em Pedro Ricardo. Seria muito mais cômodo pro eleitor dizer que votou na candidata vitoriosa. Mas não, o eleitor bate o pé afirmando que votou no outro. Curiosamente, é difícil encontrar alguém que confirme que votou na candidata vencedora, que coincidentemente é a esposa do deputado estadual Paulo Melo, presidente da ALERJ. Existem vários relatos da internet e inclusive vídeos no YOUTUBE atestando a vulnerabilidade das urnas eleitorais. Está lá pra quem quiser assistir. O fato é que esse triunvirato: Cabral, Zveiter e Paulo Melo atenta contra a democracia. Todos os poderes encontram-se de um lado só da balança, prejudicando a alternância do poder, principal filosofia da democracia. O fato é que não adianta espernear, pois o TSE, por mais que existam evidências que comprovem, jamais irá admitir fraudes em suas 'caixas pretas'. O ideal seria que a urna eletrônica emitisse, também, um cupom onde mostrasse em quem o eleitor votou. E que esse cupom fosse colocado numa urna tradicional ao lado dos mesários, para fins de comprovação posterior. Uma coisa é certa: nenhum outro país no mundo, depois de examinar, quis comprar nosso ‘avançadíssimo, rápido e moderno' método de escrutínio, nem o Paraguai.