segunda-feira, 3 de outubro de 2022

A eleição continua: o que esperar do 2º turno entre Lula e Bolsonaro

 


Do UOL, em São Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão se enfrentar no segundo turno da eleição para presidente do Brasil. Neste domingo, o petista obteve pouco mais de 48% dos votos e, apesar da liderança, frustrou os apoiadores que ainda contavam com uma vitória no primeiro turno. Já o atual presidente passou dos 43% e obteve uma votação mais expressiva do que a projetada nas pesquisas eleitorais, levando a decisão para o dia 30.

Apesar do clima de otimismo por ter chegado ao segundo turno, Bolsonaro precisa de um feito inédito: vencer a eleição depois de terminar o primeiro turno na vice-liderança. Isso nunca aconteceu nas eleições para a Presidência.

Do lado petista, o desafio maior é superar a frustração de não ter liquidado a fatura hoje e segurar o avanço de Bolsonaro, que no segundo turno contará, além de tempo de televisão igual ao do rival, com palanques importantes como o de São Paulo, onde venceu hoje e viu seu candidato, o ex-ministro Tarcisio de Freitas, passar para o segundo turno na primeira colocação — justamente contra o candidato de Lula, Fernando Haddad (PT).

Após a eleição de hoje, Lula afirmou que o segundo turno será uma "prorrogação". Já Bolsonaro disse pretender "explicar bem para a população" o que aconteceu na economia durante o seu governo e afirmou que as mudanças que alguns setores da sociedade querem podem ser "piores" para o Brasil,

Outro desafio para os dois candidatos é conquistar quem não votou neles. Lula diz que não vê problemas em negociar para ampliar sua base de apoio — vai procurar outros partidos, os candidatos derrotados neste primeiro turno e novos apoiadores de setores com os quais ainda não conversou. Já Bolsonaro pode ter mais dificuldades para obter o apoio de Ciro Gomes (PDT), associado à esquerda, e de Simone Tebet (MDB), por quem foi duramente criticado durante toda a campanha.

Leia mais na reportagem de Felipe Pereira e Lucas Borges Teixeira

Tebet passa Ciro no fim

Embora com votações que ficaram próximas entre si, Ciro e Tebet saem da eleição com gostos diferentes. Neste domingo, a senadora terminou a votação no terceiro lugar geral, à frente do ex-governador.

Tebet, que teve participação ativa na CPI da covid-19 e foi apontada como melhor dos debates eleitorais deste ano, deixará em 2023 o Senado, mas se credencia para voos maiores em 2026, na avaliação do colunista Reinaldo Azevedo,

"A Simone conseguiu encaixar tão em pouco tempo um discurso daquela turma que falava que era a terceira via não conseguiu. Ela não investiu no 'nem isso, nem aquilo', ela fez propostas e teve a coragem de ser muito dura com o governo Bolsonaro. (...) Acho que ela, se souber administrar esse capital político, vira uma alternativa de poder em 2026. Precisa ver como ela se coloca nesse jogo", opinou o blogueiro.

Já Ciro, que disputava a presidência pela quarta vez, sai da eleição com um gosto amargo. "É um resultado trágico para o Ciro, porque ele vai sair com desempenho de candidato nanico. Aquele que diz que 'sou o único que tenho programa de governo'", avaliou Reinaldo Azevedo.

Neste domingo, após a oficialização do resultado, Ciro afirmou que ainda não sabe se apoiará algum dos candidatos no segundo turno e disse se preocupar com o cenário atual do Brasil, que chamou de "situação tão complexa".

Tebet disse que não se omitirá e que vai aguardar o posicionamento dos partidos que formaram sua coligação para anunciar a quem apoiará.

SP vai para o 2º turno; Rio fecha no 1º

Na disputa de segundo turno, Bolsonaro, terá um reforço importante em São Paulo. Seu candidato ao governo paulista, o ex-ministro Tarcisio de Freitas (Republicanos), não só confirmou uma vaga no segundo turno, que era indicada nas pesquisas eleitorais, como passou com a maior votação do estado, ficando à frente de Fernando Haddad (PT), até então apontado como provável primeiro colocado.

Em seu discurso no início da noite, Tarcisio chamou seu resultado de "extraordinário" e disse que o cenário mostrou a "força do bolsonarismo em São Paulo".

Haddad, por sua vez, tentou mostrar tranquilidade apesar do resultado adverso e indicou ver que o adversário alcançou uma espécie de teto de votos. "Acho que os votos que migraram para o Tarcísio e para o Bolsonaro no primeiro turno são os votos que migrariam no segundo", afirmou. "O que o Rodrigo perdeu, acho que ele perderia no segundo turno."

Derrota histórica do PSDB

O avanço de Tarcisio e Haddad, além de trazer para o nível estadual a disputa que se verá na eleição presidencial, também representa um revés histórico para o PSDB. Rodrigo Garcia (PSDB), que herdou o governo em abril após a saída de João Doria (PSDB), ficou em terceiro lugar na votação de hoje e, com isso, o partido tucano ficará fora do governo pela primeira vez em quase 30 anos.

O PSDB venceu sete eleições seguidas em SP. Mário Covas deu o pontapé inicial em 1994 (com dois mandatos), seguido por Alckmin, José Serra, Alckmin novamente (duas vezes) e, por fim, João Doria.

O resultado deste domingo é mais um capítulo na série de atritos recentes gerados dentro do ninho tucano, primeiro entre José Serra e Geraldo Alckmin (agora no PSB e vice na chapa de Lula) e depois entre Alckmin e João Doria, passando ainda por uma rixa pública entre Aécio Neves e Doria e pela desistência do ex-governador de São Paulo em se candidatar à presidência agora em 2022, após pesquisas iniciais mostrarem que ele teria poucas chances de se eleger ou sequer chegar ao segundo turno.

Leia mais na reportagem de Juliana Arreguy

Rio de Janeiro

Se em São Paulo o segundo turno se confirmou, no Rio de Janeiro a eleição terminou hoje. O atual governador Cláudio Castro (PSC) se reelegeu com mais de 58% dos votos e deixou para trás Marcelo Freixo (PSB), que ficou na casa de 27%.

Castro lançou mão de todas as ferramentas de um político tradicional para se reeleger: formou uma ampla coligação com 14 partidos e utilizou os recursos da concessão do saneamento público do estado para abrir frentes de obras e repassar valores expressivos para municípios —de acordo com o governo, R$ 4,4 bilhões já foram reservados para pagamentos. Essa engenharia fez Castro conquistar o apoio de 85 dos 92 prefeitos do estado e de uma ampla maioria dos deputados estaduais e federais.

Toda essa musculatura fez Castro superar a sucessão de denúncias que envolveram seu governo às vésperas da campanha. Em junho, o UOL revelou o escândalo dos mais de 20 mil cargos secretos na Fundação Ceperj, espécie de IBGE estadual.

Leia mais na reportagem de Lola Ferreira, Igor Mello e Rubem Berta

 
UOL
 
  
Bolsonaristas no Senado

Além de alcançar uma votação maior do que a projetada nas principais pesquisas de opinião, o presidente Jair Bolsonaro obteve vitórias importantes de aliados nas disputas por vagas no Senado.

As duas primeiras senadoras eleitas deste domingo eram figuras reconhecidas do governo Bolsonaro: Damares Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos e agora eleita pelo Distrito Federal, e Tereza Cristina (PP), ex-chefe da pasta da Agricultura e agora senadora pelo Mato Grosso do Sul. A eleição de Damares foi comemorada pela primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, grande fiadora da campanha da ex-ministra.

No Rio Grande do Norte, a vitória foi do ex-ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho (PL), que chegou a ser cogitado como vice de Bolsonaro e teve apoio do presidente durante toda sua campanha. Já no Rio Grande do Sul, o senador eleito é o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos).

A grande surpresa, porém, considerando as pesquisas eleitorais, vem do maior colégio eleitoral do Brasil. O astronauta Marcos Pontes (PL), ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, superou o favoritismo do ex-governador Marcio França (PSB) e se elegeu senador por São Paulo, com uma campanha fortemente associada ao presidente Bolsonaro.

Ex-ministros candidatos a governador

Outros ex-ministros do governo Bolsonaro também obtiveram vitórias - embora parciais - em disputas por governos de estado. Em São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), ex-chefe da Infraestrutura, superou o favoritismo de Fernando Haddad (PT) e obteve a primeira colocação, e agora enfrentará o petista no segundo turno.

Já no Rio Grande do Sul, quem vai para o segundo turno é Onyx Lorenzoni (PL), que ocupou quatro pastas diferentes no atual governo federal. No dia 30 de outubro, ele disputará o cargo de governador contra Eduardo Leite (PSDB).

 
Flavia Montovani/Folhapress
 
  
Serviço

Com o segundo turno confirmado na disputa presidencial e também na eleição para governador em vários estados, aproveite para tirar suas dúvidas:

ABDIAS PINHEIRO/SECOM/TSE
ABDIAS PINHEIRO/SECOM/TSE
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