quinta-feira, 29 de maio de 2025

'Catástrofe a longo prazo': Mounjaro vira febre e acende alerta


Sucessor do Ozempic, o Mounjaro se tornou a nova febre para emagrecimento, prometendo resultados ainda mais significativos na perda de peso. Nas farmácias brasileiras desde maio, o medicamento à base de tirzepatida é usado para tratar obesidade e diabetes tipo 2.

Mas há também o uso contraindicado, o estético, para emagrecer alguns quilos e entre pacientes não obesos, especialmente "ricos e poderosos". É esse uso que impulsiona um mercado ilegal e levanta sérias preocupações.

O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz detalhes da apuração da repórter Camila Brandalise sobre o Mounjaro, com os bastidores da nova corrida para perda de peso e os impactos sociais que a nova febre do emagrecimento —estimulada pelas canetas emagrecedoras pode trazer.

"Socialmente falando, a longo prazo, vejo esses remédios como uma catástrofe", afirma Camila.

"As pessoas estão usando sem acompanhamento médico, para perder uns quilinhos. A gente já não lida bem com comida, com imagem corporal. Então, o que pode acontecer é haver mais problemas relacionados a transtornos alimentares”.

A substância ativa do Mounjaro, a tirzepatida, imita a ação de dois hormônios (GIP e GLP1), o que a diferencia do Ozempic (que imita apenas GLP1), potencializando seus efeitos no controle da insulina, saciedade e metabolização de gordura.

A eficácia para perda de peso é notavelmente superior.

"Para você ter uma ideia, a média de perda de peso, 22%, chega perto do resultado de uma cirurgia bariátrica, que é 25%", diz Camila, ilustrando a potência do medicamento.

O alto custo do Mounjaro, que pode chegar a R$ 2.200 por mês, torna o tratamento a longo prazo inviável para a maioria da população.

A repórter afirma que quem consegue pagar é "quem pode", e não necessariamente "quem precisa”.

Essa barreira econômica gera uma desigualdade no acesso ao tratamento da obesidade, uma doença séria que afeta uma parcela considerável de pessoas nas classes mais baixas.

Mesmo antes de chegar ao Brasil, o remédio já tinha uma demanda alta, o que impulsionou um perigoso mercado de contrabando. Esse mercado deve continuar mesmo com o Mounjaro por aqui.

Os riscos são altos, incluindo produtos falsificados, sem a refrigeração necessária ou até canetas vendidas por dose única.

Paralelamente, surgiu o "Mounjaro de pobre" nas redes sociais, um produto que não contém tirzepatida, mas sim fibra (como psyllium) encapsulada e vendida a baixo custo.

"Não é Mounjaro, não é tirzepatida, não é nada. É fibra que as pessoas estão encapsulando e vendendo com esse nome.

O uso do Mounjaro requer acompanhamento médico e multidisciplinar.

Os efeitos colaterais (náuseas, desconfortos gastrointestinais) podem ser intensos, e a interrupção sem controle resulta em rápido reganho de peso, alterando a composição corporal.

Mais importante ainda, ressalta Camila, é o fato de não haver estudos para pessoas que não são obesas, indicando a falta de base científica para o uso estético.

As consequências do uso inadequado podem incluir problemas psicológicos relacionados a peso e alimentação.

Para tentar controlar o acesso e coibir o uso indiscriminado para fins estéticos, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou que, a partir de 23 de junho, as farmácias deverão reter a receita médica de todas as canetas emagrecedoras disponíveis no mercado.

Por enquanto, os remédios podem ser comprados apenas apresentando a receita. Mas o órgão votou por mudar essa regra.

"E quando decidiu isso deixou bem claro: é porque as pessoas estão usando indiscriminadamente para uso estético", explica a repórter.

FONTE: UOL

 

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