Polícia investiga
possibilidade de Guilherme Monteiro e Luis Castro terem participado de fórum em
rede obscura da internet onde pessoas planejam crimes. Na quarta, eles mataram
8 pessoas e depois se mataram.
Por Renata Ribeiro, Filippo
Mancuso, Fábio Turci, Kleber Tomaz, Thiago Lavado e Altieres Rohr, Bom Dia SP e
G1 SP
Os assassinos
que mataram oito pessoas e depois se mataram na quarta-feira (13)
durante o massacre numa escola de Suzano, região metropolitana de São Paulo,
planejaram o crime por um mais de um ano, apontam as investigações preliminares
da Polícia Civil. Outras 11 pessoas ficaram feridas, duas em estado grave.
Ainda de acordo com os
policiais, Guilherme
Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25, pretendiam
matar mais pessoas do que as 13 vítimas fatais do massacre de Columbine,
ocorrido em 1999 nos Estados Unidos. Em abril, esse crime
completará 20 anos.
A polícia de Suzano
investiga o caso para tentar esclarecer as reais motivações que levaram
Guilherme e Luiz entrarem armados na Escola Estadual Raul Brasil e atirarem e
golpearem com machado alunos e funcionários. Antes, um deles matou o tio numa
loja.
Após a matança, os
assassinos, que eram
alunos da escola, morreram. Segundo a polícia, Guilherme
atirou em Luiz e depois se suicidou com a chegada da Polícia Militar (PM).
Pistas:
games, música, caderno, fotos e fórum na web
Os indícios
que levam a investigação a crer que a chacina foi premeditada são
games de tiros, anotações sobre táticas do jogo. Algumas anotações estão
em dois
cadernos encontrados no carro dos criminosos. Num deles há o desenho
de uma arma.
Guilherme
chegou a postar fotos ameaçadoras na internet momentos antes do crime. Ele
aparece armado e com uma máscara de caveira numa das imagens.
A polícia também investiga a
possibilidade de a dupla de assassinos ter frequentado um fórum intitulado
Dogolachan na Deep Web, uma internet considerada obscura na qual pessoas
anônimas incitam crimes de ódio e intolerância.
“Muito obrigado pelos
conselhos e orientações ... esperamos não cometer esse ato em vão”, teria
escrito um dos assassinos dois dias antes do massacre em Suzano.
Um dos amigos dos criminosos
foi ouvido pela polícia na noite de quarta e contou que soube da intenção da
dupla em fazer o atentado. Só não sabia quando seria.
Os investigadores já ouviram
20 pessoas no total, entre pessoas próximas aos assassinos e vítimas deles.
Plano:
ser maior do que Columbine
Além de terem suspeitas de
que Guilherme e Luiz planejaram o crime há mais de um ano, os policiais
acreditam ter elementos para descobrir outras peças desse quebra-cabeça para
ajudar a entender a motivação do crime.
Computadores foram
apreendidos na lan house onde os amigos assassinos costumavam jogar videogame.
Investigadores também já
sabem que os dois fizeram pesquisas sobre atentados em escolas nos Estados
Unidos. Pretendiam, por exemplo, fazer um ataque maior do que o massacre de
Columbine, em Littleton, no estado americano do Colorado, em 1999, quando Eric
Harris, de 18, e Dylan Klebold, 17, mataram a tiros 12 colegas e um professora
antes de se suicidarem na escola. Outras 24 pessoas ficaram feridas.
No massacre de Suzano,
Guilherme e Luiz mataram cinco alunos da Raul Brasil e dois funcionários. Antes
de a dupla entrar na escola, o adolescente
ainda matou seu tio no lava-jato em Suzano onde ele era dono.
Morreram os alunos Caio
Oliveira, 15; Cleiton Ribeiro, 17; Douglas Murilo Celestino, 16; Kaio Lucas da
Costa Limeira, 15; e Samuel Mequíades, 16.
Também perderam a vida, a
funcionária ; e Eliana Regina de OIiveira Xavier, 38; e a coordenadora
pedagógica Marilena Umezu, 59.
O empresário Jorge Antonio
de Moraes, tio de Guilherme, foi o primeiro alvo. Segundo policiais, ele teria
sido morto pelo sobrinho por ter descoberto o plano da dupla em matar os alunos
na escola.
Perfil
dos assassinos
Policiais civis e peritos da
Polícia Técnico-Científica foram as casas dos assassinos, que moravam a pouco
mais de 1 quilômetro de distância do colégio.
Guilherme foi criado pela
avó, que morreu há cerca de três meses. Atualmente ele estava morando com um
tio.
Luiz vivia com os pais, um
irmão mais velho e o avô. Ele era jardineiro e trabalhava na Zona Leste de São
Paulo.
“Infelizmente a família
completamente perplexa, os pais em choque, há idosos, o avô dele reside aqui,
mais de 80 anos, estão todos completamente sem chão, sem norte”, disse Fabrício
Cicone Tsutsui, advogado da família de Luiz.
Além de investigar a
participação dos assassinos nas redes sociais, a polícia quer saber como eles
adquiram as armas e como alugaram o carro usados na chacina.
Polícia
quer saber o que motivou o ataque na escola Raul Brasil, em Suzano, em SP.
Câmeras
gravaram massacre
Câmeras
de segurança da escola e da vizinhança e vídeos feitos por celulares
de alunos e funcionários da escola gravaram o crime e o desespero das vítimas
para fugir massacre.
Outras imagens também
mostram Guilherme e Luiz antes do crime. Eles haviam alugado um carro para
cometer a chacina.
Primeiro foram a loja de
Jorge, onde o sobrinho atirou nele e depois entrou no veículo, dirigido por
Luiz. Os dois então foram para a escola. Pararam na frente do portão principal
e entraram.
Guilherme chega e já começa
a atirar nos colegas.
Depois aparece Luiz com um
arco, flechas e uma mochila, onde carregava seis bombas caseiras. Com um
machado, ele começa a golpear as vítimas caídas. Segundo a polícia, era para
ter certeza de que elas seriam mortas.
As imagens mostram alunos e
funcionários correndo. Alguns são golpeados por machado por Luiz. Um
deles sai com a arma presa ao ombro.
Vítimas
relatam desespero
“A gente estava servindo
merenda na hora porque bateu o sinal e eles descem pra comer merenda. Então o
maior número de crianças fica ali próximo a cozinha. E ali estavam, aí começou
os pipocos, nós achávamos que era bombinha. Mas não foi. Ali começou a atirar e
nós abrimos a porta da cozinha, colocamos o maior número de criança que a gente
conseguiu colocar pra dentro. E ali ficamos acolhido até a polícia vir e tirar
nós de lá. Mas nisso já estava já a tragédia já tinha acontecido”, disse a
cozinheira da escola Silmaria Morais.
Outras imagens de câmeras de
imóveis vizinhos da escola mostram os alunos pulando o muro para escapar dos
criminosos.
“Eu estava assustado, eu
estava assustado. Eu vi os barulhos de tiros, as pessoas já vieram gritando ‘é
tiro, é tiro’, aí eu saí correndo. E as pessoas atrás de mim”, disse Lucas
Alves, 16, aluno da escola. “Aí eu pulei os muros, consegui pular três muros se
não me engano, e consegui fugir. Um colega meu veio atrás.”
Do pátio da escola, os
assassinos seguiram para outro setor, um centro de estudos de línguas. Lá, eles
tentaram entrar para matar mais alunos e funcionários, mas uma professora
trancou a porta e ficou com todos ali dentro.
Com a chegada da Polícia
Militar, Guilherme atirou em Luiz e depois se matou.
Investigação:
carro e armas
A polícia já sabe que o
carro usado pelos assassinos ficava num estacionamento e a dupla ia até lá de
vez em quando, pra colocar os objetos que seriam usados no massacre.
A polícia ainda encontrou na
escola um artefato com fios dentro de uma sacola. E garrafas com um líquido que
parecia ser coquetel molotov. Todo esse material está sendo periciado.
A principal arma do crime
foi um revólver calibre 38, com numeração raspada. Ou seja: foi comprado de
criminosos. A arma foi encontrada junto aos corpos dos dois assassinos.
As fotos da tragédia na
escola também mostram um outro tipo de objeto caído no chão. São os chamados
jet loaders. Foram usados pelo menos quatro desses.
São dispositivos pequenos,
feitos de plástico, com cinco furos onde a munição é encaixada. Segundo
policiais, os assassinos usaram o equipamento para carregar o revólver em menos
tempo para tentar matar o maior número de vítimas.
Os assassinos também tinham
um arco e flecha e uma balestra, ou besta. Ainda não se sabe ao certo se
chegaram a dispará-los. A besta não é considerada uma arma e tem venda livre.
'Improvisação'
Para Diógenes Lucca,
consultor em segurança, as armas usadas sugerem um certo grau de improvisação
dos assassinos.
“Eles teriam feito essa ação
com o que tivessem a mão, naquele momento. É claro que uma arma de fogo acabou
facilitando e produzindo os danos que nós percebemos aí ao final da operação.
Mas... a, o uso da machadinha foi muito revelador da vontade e do desejo
absoluto de produzir aquele massacre”, falou Diógenes.
Os corpos de Guilherme e
Luiz ainda estão no Instituto Médico-Legal (IML) de Mogi das Cruzes, na região
metropolitana de São Paulo. Só serão liberados quando todos os mortos no ataque
forem enterrados para evitar que parentes dos assassinos e das vítimas se
encontrem.
Ministério
Público
O Ministério Público de São
Paulo informou, na noite de quarta, que vai investigar em que circunstâncias
ocorreram as dez mortes do massacre em Suzano. O trabalho será realizado pelo
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
O objetivo é apurar a
possível existência de organização criminosa que tenha colaborado para
"eventual cometimento de crimes relacionados a terrorismo
doméstico, como apontam os primeiros indícios", diz o órgão. O termo
terrorismo doméstico é usado para definir atentados terroristas cometidos por
cidadãos contra o seu próprio povo ou governo.
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