quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Dando na marra R$ 400 com uma mão, Bolsonaro gera inflação e tira com outra

O governo Bolsonaro cancelou de última hora o evento de lançamento do Auxílio Brasil, o substituto do Bolsa Família. O evento estava marcado para as 17h de ontem (19), mas foi cancelado um pouco antes.

O mercado financeiro reagiu mal ao anúncio do programa. Segundo o colunista José Paulo Kupfer, os analistas de mercado afirmam que só haveria espaço fiscal para acomodar as despesas necessárias à manutenção do programa nesse nível de benefício com pedaladas fiscais, calotes em titulares de precatórios federais e quebra em regras de controle fiscal, inclusive o teto de gastos.

O governo vem há meses tentando encontrar uma fórmula para acomodar, dentro dos limites dos controles fiscais, o desejo de Bolsonaro de adotar um esquema mais alentado de transferência de renda para brasileiros socialmente vulneráveis.

Todas as fórmulas têm o inconveniente de criar espaço fiscal para o Auxílio Brasil com manobras que driblariam regras de controle, abrindo comportas para outros gastos - por exemplo, emendas de interesse de parlamentares da base aliada do governo.

"É mais do que evidente a necessidade desse apoio aos pobres e vulneráveis, não só em termos sociais, mas também para animar a economia", escreveu Kupfer. O colunista informa que são 20 milhões de cidadãos em estado de extrema pobreza, cerca de 10% da população, enquanto outros 30%, mais de 60 milhões, em situação de pobreza.

Ainda segundo Kupfer, as regras fiscais não são imutáveis e devem ser sempre revistas à luz das novas exigências que se apresentem no ambiente econômico e, principalmente, nas necessidades sociais.

"Mas as revisões precisam obedecer a critérios técnicos e se amparar em aspectos políticos bem debatidos e embasados. Derrubá-las ou tentar contorná-las sem cuidados, debates e mínimos consensos é arriscado para a saúde da economia", afirmou o colunista.

"Ao tentar impor na marra um novo programa de transferência, com a quebra não planejada de regras fiscais, Bolsonaro corre o risco de contratar o pior dos mundos: colaborar para um período de maior desorganização econômica, com juros, dólar e inflação em alta, o que dificultaria a retomada da atividade econômica e a redução do desemprego que o auxílio mais robusto imaginado poderia impulsionar", completou.

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