quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Democratas vencem e impõem derrota simbólica a Trump

 

Zohran Mamdani comemora a vitória ao lado da esposa, Rama Duwaji, em evento no Brooklyn, após ser eleito prefeito de Nova York - o primeiro socialista a comandar a cidade em mais de um século

Zohran Mamdani comemora a vitória ao lado da esposa, Rama Duwaji, em evento no Brooklyn, após ser eleito prefeito de Nova York - o primeiro socialista a comandar a cidade em mais de um século

Angelina Katsanis/AFP


Irineu Machado, do UOL

As eleições regionais e locais de ontem nos Estados Unidos, com disputas cruciais para governos estaduais e a Prefeitura de Nova York, deram ao Partido Democrata uma vitória contundente, interpretada como um referendo precoce contra o segundo mandato de Donald Trump.

Os democratas venceram nas quatro principais frentes da noite: os governos da Virgínia e de Nova Jersey, a Prefeitura de Nova York e a Proposição 50 na Califórnia, sobre redistritamento (processo de redefinição dos limites dos distritos eleitorais). O resultado devolveu energia a uma base que parecia desmobilizada desde 2024.

 

Custo de vida e o desgaste republicano

O tema dominante nas urnas foi o custo de vida. Pesquisas de boca de urna indicam que a economia superou imigração e segurança como principal preocupação. O dado é preocupante para Trump, que agora responde pela condução econômica do país.

O senador democrata Chuck Schumer classificou o resultado como "repúdio à agenda Trump". Analistas apontam que, mesmo fora das cédulas, o presidente arrasta o partido com índices de aprovação baixos e uma gestão marcada por cortes no governo federal.

Nova York: o fenômeno Mamdani

A vitória mais simbólica veio de Nova York: o democrata-socialista Zohran Mamdani, 34, foi eleito o prefeito mais jovem da cidade em mais de um século, e o primeiro muçulmano e sul-asiático a ocupar o cargo.

 

Ex-rapper e deputado estadual em segundo mandato, Mamdani — que, relata Mariana Sanchescomeçou como azarão — derrotou o ex-governador Andrew Cuomo, candidato independente apoiado por Trump.

 

Com base em eleitores jovens e comunidades imigrantes, Mamdani construiu uma campanha centrada na acessibilidade da cidade mais cara do país. Entre suas promessas:

Trump reagiu durante a campanha chamando-o de "comunista lunático". Mamdani respondeu em seu discurso após eleito: "Donald Trump, sei que você está assistindo: aumente o volume."

O novo prefeito enfrenta agora um desafio orçamentário: suas propostas exigem mais de US$ 7 bilhões anuais. Isso depende da aprovação de aumentos de impostos pelo Legislativo estadual e pela governadora Kathy Hochul, que se opõe a tributar os mais ricos..

O The New York Times elogiou sua energia e alertou para a necessidade de pragmatismo; já o The Wall Street Journal o descreveu como um "teste de laboratório socialista" que pode espantar a capital e a população da cidade.

A via moderada

Em contraste, Mikie Sherrill (Nova Jersey) e Abigail Spanberger (Virgínia) consolidaram o centro democrata.
Spanberger, ex-agente da CIA, tornou-se a primeira mulher a governar a Virgínia, vencendo com ampla margem ao focar em pragmatismo, custo de vida e direitos reprodutivos.
Sherrill, ex-piloto da Marinha, também fez história como primeira mulher democrata a governar Nova Jersey, derrotando Jack Ciattarelli e explorando a decisão vista como erro político de Trump de encerrar o projeto do Túnel Gateway, considerado vital para o estado.

 

Califórnia contra-ataca

Na Califórnia, os eleitores aprovaram a Proposição 50, uma medida para redesenhar temporariamente os distritos congressionais do estado. A iniciativa, liderada pelo governador Gavin Newsom, busca neutralizar manobras de manipulação eleitoral de distritos (conhecidas nos EUA como "gerrymandering") promovidas por republicanos em outros estados, como o Texas, e pode render aos democratas até cinco cadeiras adicionais na Câmara dos Representantes em 2026.


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