“Fundamental
será o interrogatório do réu. Réu convicto da inocência costuma impressionar.
Quando não mostra convicção, afunda a defesa”
Luiz Flávio Gomes *
Teve início ontem (4 de março) o julgamento do ex-goleiro Bruno e da sua
ex-mulher Dayanne Rodrigues. Bruno é acusado de ter mandado matar Eliza Samudio
(e ter promovido o sequestro dela e do filho do casal). A nova investigação
aberta pela polícia civil, sobre a possível participação na execução da vítima
de outros policiais, só tende a beneficiar o Bola (gerando dúvida sobre a
autoria da execução). Em princípio, não altera a situação processual do
ex-goleiro, que é complexa. Por quê?
Porque o promotor (Henry Castro) já disse que vai explorar todas as provas
indiciárias contra ele: delação de Macarrão, telefonemas entre todos eles no
dia dos fatos, sangue no carro do acusado Bruno, depoimentos de testemunhas
etc. Claro que grande peso tem a surpreendente delação de Macarrão. De qualquer
modo, naquele dia Bruno não estava lá para fazer o contraditório. Vai exercê-lo
agora. Tentará a defesa retirar a credibilidade da delação.
Promete o assistente de acusação (Dr. José Arteiro) uma “bombástica”
testemunha, que tudo saberia contra Bruno. Aguardemos! Não há impedimento legal
de a juíza determinar a oitiva de uma testemunha não arrolada pelas partes.
A tática da defesa (conduzida por Lúcio Adolfo) será a desconstrução da
validade dos indícios, gerando, assim, dúvida na cabeça dos jurados. A dúvida,
como sabemos, favorece o réu.
Caso os jurados condenem Bruno, sua pena pode chegar (no máximo) a perto de
41 anos. De qualquer modo, os juízes e tribunais brasileiros não costumam
aplicar a pena máxima. Considerando-se o total da pena de Macarrão (23 anos,
menos 8 pela delação, resultando em 15 anos), é plausível supor que eventual
condenação de Bruno seja sancionada com pena maior, caso venha a ser
reconhecido como mandante (algo em torno de 25 a 30 anos). Terá que cumprir
disso 40% em regime fechado (por se tratar de crime hediondo), descontando-se o
tempo já cumprido de prisão.
Tudo isso, no entanto, é pura especulação, porque no cenário da defesa é
perfeitamente possível a absolvição. A defesa tudo fará para desmontar a força
dos indícios incriminatórios.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais adiou, na última quarta, o julgamento
do habeas corpus impetrado por Bruno. Fez isso com prudência. Nenhum tribunal
julga HC de um réu com júri marcado para quatro ou cinco dias depois. O
tribunal vai aguardar o veredito dos jurados. Caso absolvam, liberdade
imediata; caso condenem, a tendência é a manutenção da prisão (réu que
respondeu preso, normalmente continua preso).
O questionamento relacionado com a ausência do corpo da vítima continua
aberto. Se a defesa vai ou não insistir nisso, não sabemos. De qualquer modo, o
fato de a Justiça ter expedido uma certidão de óbito não impede tal
questionamento (porque a certidão também se fundamentou numa presunção).
A testemunha Jorge Luiz (primo do réu) já prestou vários depoimentos
contraditórios. O último para o “Fantástico”. Sua credibilidade perante os
jurados está minguada. De qualquer maneira, eventual depoimento bastante convincente
pode impressionar os jurados.
Fundamental será o interrogatório do réu. Fará o contraditório (diferido)
frente ao que disse Macarrão e mostrará seus argumentos. Réu convicto da
inocência costuma impressionar. Quando não mostra convicção, afunda a defesa
(tal como ocorreu recentemente em vários julgamentos midiáticos).
Não havendo provas diretas (seja sobre o corpo da vítima, seja sobre a
autoria), são relevantíssimos os debates orais. Acompanharemos esse julgamento
passo a passo, informando nossos seguidores no atualidadesdodireito.com.br.
Que a juíza, doutora Marixa Rodrigues, não seja surpreendida com os tumultos do
julgamento anterior.
* Luiz Flávio Gomes, jurista e presidente do Instituto Avante Brasil, mantém o blog blogdolfg.com.br.
* Luiz Flávio Gomes, jurista e presidente do Instituto Avante Brasil, mantém o blog blogdolfg.com.br.
Um comentário:
Inocente,e terminando o julgamento,mesmo que continue preso,ele vai se converter e aí teremos mais um pastor...moda.
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